A Gentil Arte da Auto-Defesa do Dharma

       Muitas pessoas julgam faz um juízo falso do Hinduísmo e do caminho védico, desprezando-os como uma forma de paganismo ou alguma superstição ignorante. É importante demonstrar compaixão por aqueles que não compreendem ou perseguem a religião Hindu e a cultura Védica. E o caminho adequado para demonstrar compaixão por eles é gentilmente guiá-los aos níveis de verdade mais elevados que se encontram no caminho Védico. Este folheto mostrará vários exemplos de como responder tais críticas e analisar as razões de suas reclamações ou objeções serem imprecisas e injustificadas.
por Yajnavalkya Dasa

PREFÁCIO
         Este folheto não tem direitos autorais. Na defesa do Dharma, o editor original, International Database, e o autor, Yajnavalkya Dasa, colocaram este trabalho em domínio público. Assim sendo, você está livre (e é encorajado) a copiar e distribuir este folheto como desejar. Atualmente você pode encontrá-lo no site: http://www.fortunecity.com/banners/interstitial.html?http://www.fortunecity.com/banners/interstitial.html?http://www.stephen-knapp.com/. Ele está lá para ser mandado por e-mail e para distribuição na Internet, assim como para download e distribuição em cópia impressa. Ele também está disponível como um documento MS-Word ou WordPerfect, ou arquivos pdf (Adobe Acrobat Reader). Para ter sua cópia em qualquer destes formatos adicionais, simplesmente faça seu pedido em inglês para [email protected]

INTRODUÇÃO
      Há algum tempo, eu vi um livro escrito por Cristãos que planejavam "converter" membros de outras religiões ao Cristianismo. Este livro falava das crenças de outras religiões, e tinha um guia útil para apontar os chamados "pontos fracos" do Hinduísmo, Budismo, Jainismo, etc. Evidentemente, os Cristãos tem o direito de praticarem sua própria religião, mas seus direitos acabam onde começam os direitos dos outros. É interessante lembrar que certos Cristãos, particularmente alguns "fundamentalistas", tem uma agenda para "salvar" os "pagãos". Alguns evangélicos muito conhecidos da televisão imploram por fundos para poder mandar missionários à Índia, para salvar os "Hindus adoradores do demônio". Simultaneamente, eles têm como alvo a juventude Hindu aqui na América para usar suas táticas de conversão. Existe uma editora na Califórnia que produz histórias em quadrinhos anti-Hindus, ensinando que Satã (na mitologia Cristã, o espírito supremo do mal) criou a religião Hindu. Percebendo o quanto a família e a comunidade são importante para os Hindus, fanáticos religiosos usam "leis de zoneamento" para evitar o estabelecimento de templos (como na luta para construir um templo perto de Sydney, Austrália em 1991), ou para fechá-los (como foi o caso de dois templos Hindus na Inglaterra).
      Outra tendência perturbadora é o crescimento do fundamentalismo Cristão e conservadorismo na política. O popular Cor. Oliver (Ollie) North fala na importância dos bons valores Cristãos, como o líder "antecedente" David Duke da Ku Klux Klan, um político admirado da Lousiania que tinha planos para chegar à Casa Branca. Do mesmo modo, o candidato Presidencial Republicano de 1992, Path Buchanam, é colunista de um jornal Cristão Americano, publicado pela "Coalizão Cristã", cujo objetivo declarado é a promoção de valores Cristãos. Além disso, lembramos do popular pregador evangélico de TV Pat Roberson, que disputou a Presidência em 1988. Em seu recente livro "A Nova Ordem Mundial", no fim da pg. 218, ele menciona o empenho de sua campanha para levar apenas Cristãos e Judeus ao governo com ele, e declara muito claramente que acredita que os seguidores do sistema de valores Judaico-Cristão estão mais preparados para governar a América que os Hindus. Mas antes que pensarmos que ele é um doido qualquer, devemos lembrar que ele ganhou as primárias republicanas em alguns estados naquele ano.
     Também vem acontecendo mais ataques pessoais aos Hindus. Foram informadas várias ocorrências de Cristãos deixando mensagens desafiadoras em secretárias eletrônicas de Hindus. Ou o incidente mencionado em 1 de Agosto [ano?] no jornal Dallas Observer, no qual os Cristãos insultam em voz alta uma festa sankirtana Gaudiya Vaishnava, jogando carne crua nos rostos dos devotos. E há exemplos de violência física. Eu mesmo testemunhei um Cristão tentando atacar as Divindades de um templo Gaudiya Vaishnava em Detroit em 1973, reclamando da "adoração de ídolos". Três quartos de um templo Vaishnava em Fiji foram destruídos por uma gangue de jovens cristãos em 15 de Outubro de 1989. Em 20 de Setembro de 1991, um sacerdote de 77 anos de idade foi atacado num altar do templo Siva Subramaniya Swami em Fiji, por um jovem Cristão que lhe disse para "parar de adorar ídolos e ir para uma igreja rezar para Jesus"... enquanto batia na cabeça do velho sacerdote, e esmagava seu rosto no chão de concreto. Estes são apenas alguns exemplos.
      Evidentemente, pode-se argumentar que estas últimas ocorrências foram executadas por membros da ala lunática do Cristianismo. Esta é uma observação válida. Mas também é importante reparar que tais atividades certamente parecem ser endossadas pela própria Bíblia. Por exemplo, na mitologia Cristã (no Velho Testamento, Êxodo 32:19-20), há um episódio no qual Moisés, carregando as tábuas de pedra contendo os "Dez Mandamentos", encontra alguns "adoradores de ídolos". Fervendo de cólera furiosa, ele tenta destruir o "ídolo" atingindo-o com as tábuas de pedra. Tal história, assim como a história Cristã das Cruzadas, a Inquisição, e a caça às bruxas na Europa e América, podem criar um clima no qual o ataque físico aos "pagãos", "infiéis" e "idólatras" é encorajado.
      Muitos Cristãos são tolerantes e respeitam o direito de outras religiões, culturas e crenças. Alguns exemplos de grupos tolerantes incluem os Unitários, Quakers, Amish, Episcopais, Ortodoxos Orientais, e os Católicos Romanos. Outros grupos como os Metodistas, Luteranos, Presbiterianos, e os Mórmons são relativamente tolerantes. Mas há grupos que desenvolveram uma fama de intolerância, tais como os Batistas, Adventistas, Pentecostais Meridionais, e Testemunhas de Jeová.
      De fato, alguns dos membros destes grupos são intolerantes até mesmo com outras seitas Cristãs, quanto mais com outras religiões! Tais grupos são conhecidos como fundamentalistas: acreditam que a Bíblia é perfeita e sem falhas, e que é a única escritura válida no mundo.
      Uma vez que a maioria dos fundamentalistas da Bíblia não tem respeito pela autoridade de outras escrituras, é praticamente inútil refutar suas palavras Bíblicas com truísmos Védicos ou Budistas. Por esta razão, neste folheto eu lhe mostrarei como você pode facilmente derrotar seus argumentos usando lógica e bom senso, e reconhecendo os lapsos na lógica (chamadas de "falácias filosóficas") de seus próprios argumentos. Assim, este folheto não será útil apenas aos Hindus, mas também aos Budistas, Jainistas e Taoístas.
      A maioria das pessoas usa a palavra "fanático" num sentido ético ou racial, mas o dicionário define fanático como "alguém cegamente intolerante aos pontos de vistas dos outros, especialmente nos assuntos de religião e raça". A fonte do fanatismo é a intolerância. Usando este folheto, você pode educar gentilmente os que têm mentalidade estreita, derrubando assim os muros que separam uma cultura da outra.

INÍCIO
       Há duas causas principais para a atitude inamistosa que muitos fundamentalistas mantém contra o Hinduísmo. A primeira é sua crença chauvinista e enganada de que apenas sua escritura é válida. E a segunda causa são seus grosseiros equívocos e desinformações a respeito de outras religiões.
      A respeito do primeiro ponto (a supremacia da Bíblia), eu trarei vários argumentos que lançam dúvidas consideráveis quanto a sua validade. Pode ser discutido que vários destes argumentos também podem ser usados contra as escrituras Védicas. Por exemplo, é praticamente impossível provar perfeitamente que as escrituras Védicas têm autoria divina. Mas há várias diferenças importantes...
      Primeiro, mesmo os Cristãos cultos não dizem que a Bíblia foi escrita por Deus, ou transmitida divinamente ao homem. Eles podem dizer que a Bíblia foi escrita por homens, mas inspirada por Deus. É por isso que a Bíblia é considerada (por estudantes bíblicos e teólogos Cristãos) como sendo aberta à interpretação. Mas deve ser apontado que apenas porque alguém é "inspirado" isso não significa que seja a Verdade Absoluta. Por exemplo, um homem pode ser inspirado por sua amante a escrever um poema sobre ela, mas isto não significa que suas palavras sejam verdadeiras, nem isto significa que sua amante aprove o que foi escrito.
      Quanto à "interpretar"  as escrituras, vale a pena mencionar que os Hindus consideram Deus como sendo "Adhoksaja", ou o Uno que está além da mente e dos sentidos. Assim sendo, é impossível especular precisamente sobre a natureza fundamental de Deus. Nossos sentidos, nossas mentes, e todas nossas ferramentas (computadores, microscópios, etc.) não nos podem dar o conhecimento perfeito nem mesmo de nosso mundo material, quanto mais de Deus, que transcende o mundo material! Assim, a única maneira de se adquirir conhecimento de Deus é deixando o processo de conhecimento, isto é, recebendo o conhecimento de Deus do próprio Deus. Se Deus existir, e se Ele deseja que nós conheçamos algo sobre Ele, certamente nos dará um meio de aprendermos sobre Ele. E isto é feito através do "manual do usuário" do universo, chamado de Vedas. Deus concedeu este conhecimento para Brahma, o primeiro ser criado, o qual o passou através da sucessão discipular, até que eventualmente Vyasadeva compilou as escrituras Védicas em forma escrita.
      Os Cristãos atribuem a autoria dos livros da Bíblia a autores "tradicionais". Isto é interessante, pois a maioria dos livros da Bíblia é realmente anônima. Há poucos versos "assinados" ("estes livros foram escritos por...") do modo que é habitual nas escrituras Hindus. No Apêndice deste trabalho, eu dou uma lista das opiniões de estudiosos modernos quanto à verdadeira autoria dos livros da Bíblia. Estas não são especulações cegas, mas suas melhores opiniões científicas resultantes da medida cuidadosa das evidencias disponíveis. Em vários casos, eu listei a evidencia usada pelos estudiosos, num tipo de "história de detetive" arqueológica. É intrigante como tantos Cristãos tem a tendência de citar suposições de fontes questionáveis de outras escrituras, mas minimizam (ou simplesmente ignoram) as opiniões dos especialistas Bíblicos sobre sua própria escritura!
      Finalmente, o "ônus da prova" está inteiramente com os Cristãos. De acordo com as regras da lógica e do debate (assim como as regras da lei), quando alguém tenta condenar o âmago de uma crença diferente, o ônus da prova é do acusador. Antes de qualquer coisa, os Hindus não atacam as outras religiões... nós respeitamos todas (exceto por seu exclusivismo). Se um Cristão fundamentalista se aproximar de você, o ônus da prova é dele, que deve comprovar o que fala.
      Mais ainda, há o problema de muitos Cristãos equivocarem-se totalmente quanto a outras religiões. Isto se devem inteiramente à ignorância. Um exemplo de enganos grosseiros ocorreu durante um show de rádio em Chicago. Um Cristão era convidado do show, e ele estava promovendo seu novo livro que mostrava como os desenhos animados das manhãs de sábado, que eram dirigidos às crianças, estavam "contaminados" com a Nova Era, Satanismo, Hinduísmo e Budismo (repare como eles tendem a agrupar Hinduísmo e Budismo com o Satanismo). Num certo ponto, ele foi desafiado a citar seu conhecimento dos "males" do Hinduísmo. Ele respondeu: "O objetivo do Hinduísmo é adorar a si mesmo. E isso, de acordo com a Bíblia, é uma artimanha de Satã. Satã causou a queda de Adão e Eva do Jardim do Éden, fazendo-os adorarem a si mesmos em primeiro lugar, ao invés de Deus". Este é um engano grosseiro. Ele obviamente confundiu as ordens de "adorar o Ser" (isto é, o Brahman sem diferenciações) com adorar o a seu próprio ser!
      Eu uso frequentemente o seguinte exemplo para mostrar aos Cristãos como é fácil enganar-se quanto a outras religiões: no Cristianismo existe um sacramento chamado de Eucaristia, no qual o sangue de Cristo é bebido simbolicamente (na forma de vinho ou suco de uvas) e o corpo de Cristo é comido (na forma de hóstia). Mas se uma pessoa escuta que "no ritual Cristão eles comem o corpo de Cristo e bebem seu sangue", ele pode facilmente pensar que os Cristãos são vampiros ou canibais!
      Da mesma forma, muitas pessoas se enganam quanto ao Hinduísmo, desprezando-o como uma superstição ignorante. Elas consideram a adoração do Ser como narcisismo; a adoração da Divindade no templo como idolatria: a estima pela vaca como animismo; o respeito pela Mãe Terra e outras formas de vida como panteísmo; e eles ridicularizam o nobre conceito de ahimsa (não-violência para outros seres viventes) como um sentimentalismo pouco prático.
      É importante mostrar compaixão por aqueles que perseguem a religião Hindu e a cultura védica. E a maneira certa de demonstrar compaixão por estes é gentilmente esclarece-los. Este folheto mostrará vários exemplos de como responder a tais críticas.
      Este folheto também dará exemplos de "falácias filosóficas", ou lapsos no pensamento lógico. A existência de uma falácia filosófica torna o argumento inválido. Aqui está um exemplo de tal falácia, conhecida em Latim como post hoc ergo propter hoc, o "Argumento da Causa Falsa": "A América é um país preponderantemente Cristão. A América venceu facilmente o Iraque, um país muçulmano. Assim, ve-se claramente que Deus está ao lado dos Cristãos." Como podemos ver, esta falácia é cometida quando alguém tenta erroneamente fazer uma conexão de causa-e-efeito. Seguindo esta "lógica", alguém pode dizer que os poderosos EUA foram incapazes de derrotar o Vietnã preponderantemente Budista durante a guerra do Vietnã. Isto significa que Deus estava ao lado dos Budistas?
      As falácias filosóficas às vezes são cometidas sem maldade, mas é importante procurá-las e apontá-las quando as percebemos. Na realidade, quando a ouvimos pela primeira vez, a falácia parece fazer sentido; mas ao refletirmos, as falhas se exibem muito claramente. As falácias filosóficas também permeiam a propaganda nacionalista e política, como podemos ver em slogans atraentes. O grito de união nacional, "América... ame-a ou deixe-a!" (obs 1), é um exemplo popular. Nele está implícito que os cidadãos devem seguir um comportamento cegamente, mesmo que da parte do governo ele seja imoral ou fira a ética. Devemos ser gratos por aqueles que lutaram contra a escravidão por volta de 1800 estarem dispostos a questionar as políticas do governo.
      Ao se envolver num debate, e especialmente num debate de natureza religiosa, é vitalmente importante manter-se frio e calmo, o que pode ser difícil quando sua religião, sua cultura, sua pátria, e mesmo sua família estão sendo ofendidos ou blasfemados. Mas nenhum bem pode surgir ao se ficar irritado. De fato, é difícil pensar logicamente quando se está num estado de agitação mental. É importante permanecer num estado de equilíbrio emocional, servindo de exemplo para outros. Como o trabalho em prosa Desiderata recomenda, "Fale sua verdade calma e claramente. E escute o tolo e o ignorante, pois eles, também, têm sua história."
      Há exceções, evidentemente, mas os prosélitos são, muito frequentemente, inseguros. Porque eles realmente têm dúvidas sobre sua própria religião, ao pregar aos outros ele estão realmente pregando para si mesmos. Porque eles têm tantas dúvidas, eles estão constantemente debatendo consigo mesmos (em sua própria mente) no porque eles creem em algo de uma certa maneira. Deste modo, eles tornam-se proficientes em sua evangelização. E se eles conseguem converter mais alguém, isso reforça sua fé. Por outro lado, pessoas que são verdadeiramente firmes em sua fé e seguras em sua religião frequentemente se esquecem das razões pelas quais praticam sua própria fé, uma vez que elas não têm mais debates internos consigo mesmas. É minha esperança sincera que este folheto auxilie outros a se defenderem de intrusões indesejáveis na prática gentil de sua própria religião, sanatana-dharma.

CAPÍTULO UM: AS BASES
       Como mencionei antes, a própria base do auto-proclamado elitismo religioso dos Cristãos está na pretensão da infalibilidade de sua escritura, a Bíblia. Eles pretendem que ela seja a única escritura válida na Terra. Isso é semelhante à filosofia que levou o general Muçulmano a queimar a biblioteca de Alexandria há muito tempo, com seu imenso tesouro de conhecimentos da antiguidade. Em seu raciocínio ele alegava, "Se estes livros apenas repetem o que está no Alcorão, eles são desnecessários. Se eles dizem algo diferente do que está no Alcorão, então eles são perniciosos. Uma vez que estes livros ou dizem algo que já está no Alcorão, ou dizem algo que não está no Alcorão, isto significa que todos esses livros são desnecessários ou perniciosos. Assim, eles devem ser destruídos." Este tipo de "raciocínio" é um tipo de falácia filosófica no qual alguém não considera as outras alternativas viáveis. Este é um tipo de mentalidade "ou isto ou aquilo", vendo todos os problemas em termos de branco-ou-preto, enquanto ignora os vários tons intermediários de cinza.
       Há outro problema de lógica que surge quando alguém considera a doutrina de que apenas uma escritura seja o único livro de leis válido. Qualquer argumento para suportar esta idéia deve, assim, vir deste mesmo livro. Esta é a falácia lógica conhecida como "argumento circular", que é cometida quando alguém apresenta evidencia a partir daquilo que está tentando provar. Do mesmo modo, se você pedir a um fundamentalista Cristão para provar a validade da Bíblia, ele  normalmente começará a citar versículos da Bíblia! Eis aqui um exemplo simples desta falácia: Um ladrão está dividindo o fruto de seus roubos, algumas jóias, com seus dois comparsas no crime. Mas ele fica com a maior parte das jóias. "Por que sua parte é maior do que a nossa?", perguntou um dos comparsas. "Porque eu sou o chefe", ele responde. "Por que você é o chefe?", seu parceiro insiste. E a resposta é: "Porque eu tenho mais jóias."
      Este princípio de aceitar a autoridade de apenas uma escritura é desconhecido no Hinduísmo, o qual tem o sistema de verificação e avaliação de guru-sadhu-shastra. Uma autoridade assim deve ser aprovada por um mestre espiritual (o guru), e por homens reconhecidamente santos (os sadhus), assim como pelas escrituras já reconhecidas que existem (o shastra).
   Como já mencionei, há grandes dúvidas quanto à autoria dos diversos livros da Bíblia. A compilação no Apêndice A deste trabalho veio de várias fontes de boa reputação, de enciclopédias respeitadas como a Enciclopédia Britânica, Enciclopédia Collier, e Enciclopédia Funk & Wagnall. Todas elas reuniram sua informação a partir de estudantes bíblicos famosos. Estes especialistas consideraram cuidadosamente as evidencias diferentes a respeito da autoridade dos livros, e deram sua melhor opinião profissional e erudita. Os fundamentalistas Cristãos tendem a rejeitar completamente estes argumentos, mas são incapazes de produzir evidencias suficientes (ou, na maioria das vezes, qualquer evidencia) para refutar as descobertas destas autoridades. Fé é uma coisa... mas fé cega é outra.
       Como o Apêndice relata, a maior parte dos livros da Bíblia é anônima. Isso tem um significado em si. Como um livro pode ser considerado inspirado por Deus quando o autor é completamente desconhecido? Se você não sabe quem é o autor, como você sabe que ele foi inspirado divinamente? Também existe a questão do caráter do autor. Esta questão se levanta não apenas nos livros anônimos, mas também nos livros em que nada se sabe do autor, exceto seu nome. O autor era um santo ou um lançador de intrigas? Nós não sabemos. Mas pede-se que deixemos nossas próprias crenças de lado e coloquemos nossas almas nas mãos deste livro.
      Um dos testes para se saber se uma hipótese é válida ou não, consiste em vermos quem está apresentando a hipótese. Antes de qualquer coisa, você não procuraria conselhos financeiros de um mendigo. Será que deveríamos seguir conselhos espirituais de uma pessoa completamente desconhecida?
      E existe ainda o fato perturbador de que vários livros da Bíblia mostrarem evidencias de alterações. Existiram modificações e adições. E também é muito provável que existiram supressões de texto. A questão que surge é, "Quem fez isso?", e mais importante, "Por que?" Quais foram seus motivos? Deveria existir algo no original que perturbou alguém o suficiente para que ele quisesse mudar isso. O que foi esse algo? Estas são perguntas muito perturbadoras. Também há a questão do cânone Bíblico em si. Sabemos que no antigo Israel e na igreja primitiva conheciam-se muito mais livros religiosos além dos que constituem a Bíblia atual. Por exemplo, existiam 50 evangelhos em circulação de uma vez, mas apenas quatro estão no Novo Testamento! Quem decidiu quais livros deveriam se tornar parte das escrituras Cristãs, e novamente, "Por que?". Quem decidia, "Este livro fica... este outro não"? Quais foram suas razões? Quais foram seus motivos? Há relatos de que alguns dos livros que não foram inclusos continham referencias à reencarnação e ao ahimsa (não-violência), assim como referencias que Jesus viajou à Índia durante sua juventude para aprender sobre as verdades espirituais. O fato é: não existem registros claros que documentem o processo da igreja que determinou quais livros eram aceitáveis e quais não eram. O consenso geral da opinião entre os estudiosos é de que a decisão foi baseada com a concordância do livro com o pensamento teológico que prevalecia naquela época. Em outras palavras, os únicos livros aceitos eram os que mantinham o "status quo". Isso significa que a religião dos fundamentalistas não se baseia na Bíblia, como eles alegam tão fervorosamente... mas significa que a Bíblia se baseou na religião preponderante! Isto, por si só, é outro exemplo do "argumento circular" que mostrei antes.
      Outra maneira de se julgar algo é verificando seus resultados ("a prova do pudim consiste em saboreá-lo"). Se você compra um livro de manutenção de automóveis, e como resultado seu carro fica muito pior, você tem boas razões para duvidar da validade do livro. Então vamos dar uma espiada no legado de vários dos seguidores da Bíblia. Vamos ver a miséria que se seguiu às pessoas que assumiram um ar de elitismo espiritual. Pode-se argumentar que as atrocidades mencionadas foram cometidas não por "Cristãos verdadeiros", mas por fanáticos desorientados. Mas, como dissemos antes, a Bíblia certamente estabele exemplos para tais ações.
       Primeiro, existiram as Cruzadas, uma série de oito grandes expedições militares (e várias outras campanhas menores) durante um período de quase 300 anos, com o propósito de "resgatar" o  "cálice sagrado" dos "pagãos" Muçulmanos. As Cruzadas Cristãs massacram virtualmente todo homem, mulher e criança em Jerusalém em 1099. A Cruzada Cristã de 1212 resultou em muitas crianças morrendo durante o caminho, e outras vendidas como escravos. As Cruzadas geraram mortes, doenças miséria para milhões de Cristãos e não-Cristãos. Mas, ainda hoje, uma das canções favoritas nas igrejas Cristãs é, "Avante, Soldados Cristãos!"
      Também há a infame Inquisição, uma série de instituições quase jurídicas da igreja Cristã que começou em 1231, e não foi abolida até 1820. O propósito principal da Inquisição era a punição da heresia (a manutenção de uma crença que não fosse parte do dogma Cristão). Os condenados eram punidos com multas, confisco de propriedades, aprisionamento, e morte em fogueiras. A tortura contra os acusados (não apenas contra os condenados!) foi aprovada pelo Papa Inocencio IV por volta de 1200. A Inquisição Espanhola, um ramo do governo estabelecido com sanção papal, foi destinada primariamente contra os Judeus, e tornou-se sinônimo de terrorismo.
      Um caso típico de perseguição herética da história é o de Joana d'Arc no século 15, uma heroína da Guerra dos Cem Anos. Ela foi capturada pelos ingleses em 1430; eles a levaram a uma corte eclesial (da igreja), acusando-a de heresia e bruxaria. Seus interrogatórios duraram 14 meses. Ela foi culpada de: 1) vestir-se como um homem, e 2) heresia (ela acreditava ser de responsabilidade de Deus, ao invés da igreja). Ela foi queimada numa estaca. A caça às bruxas na Europa dos séculos 11 ao 17 (e nos Estados Unidos na parte final do século 17) resultou na tortura e execução (normalmente por fogo) de centenas de pessoas por Cristãos devotos e bem intencionados, com as bênçãos da Igreja. Uma ocorrência de seca, uma epidemia, um bebê ou animal da fazenda morrendo durante seu nascimento era o suficiente para iniciar uma histérica caça às bruxas. As pessoas eram encorajadas a delatarem as outras, crianças contra seus pais, esposos um contra o outro. Bastava ter uma marca de nascença para tornar alguém suspeito. As testemunhas eram pagas para depor contra o acusado. As confissões eram forçadas tanto através de torturas desumanas, quando pela promessa de perdão pós-confissão (embora o perdão raramente fosse concedido). Os caçadores profissionais de bruxas recebiam uma comissão por cada condenação.
      A destruição das civilizações Inca, Maia e Asteca nas Américas Central e do Sul, entre os séculos 16 e 19 foi impulsionada pela cobiça, é claro, mas ainda tiveram as bênçãos da Igreja, que via isso como uma atividade missionária importante. O impulso para as conquistas Espanholas no Novo Mundo veio da Rainha Isabela, que foi uma Cristã tão fervorosa que se tornou conhecida como "Isabela, a Católica". Ela é bem conhecida por suas atividades no início da Inquisição, e na expulsão dos Judeus da Espanha. É irônico que o dinheiro que financiou as excursões militares/missionárias tenha sido obtido pelo confisco das propriedades dos Judeus durante a inquisição. O resultado final destas excursões foi o grande número de índios da América Central e do Sul sendo mortos, não apenas em lutas, mas por doenças diversas trazidas pelos Europeus (varíola, sífilis, peste, etc.).
      Também é irônico que os Estados Unidos, que foram fundados originalmente por pessoas que fugiam do fanatismo religioso na Europa, dedicaram-se posteriormente à perseguição aos índios nativos americanos. Este conceito unicamente americano foi chamado de "Destino Manifesto", e proclamava que os Estados Unidos tinham sanção divina (!) "para estender o continente (Norte-Americano) concedido a nós por Deus para o desenvolvimento livre da multiplicação de milhões". Este conceito era usado como justificativa para as excursões dos Estados Unidos que destruíam as civilizações nativas indígenas. A doutrina do "Destino Manifesto" foi modificada posteriormente para justificar a anexação de várias ilhas do Caribe e do Pacífico.
      Também é digna de menção a atitude americana em relação à escravidão dos negros. Certamente é verdade que vários grupos Cristãos começaram a luta para a abolição da escravidão, principalmente os Quakers. Mas várias seitas Protestantes se dividiram na questão da escravidão. Algumas eram favoráveis a escravizar outros seres humanos, enquanto outras se opunham. Como vemos, esta atitude de superioridade espiritual resultou numa enorme quantidade de sofrimento humano. Mas isto empalidece em comparação com o sofrimento trazido à Terra e às criaturas em nossa volta. Este é o resultado da doutrina Cristã de "antropocentrismo", a crença de que o homem é o centro do universo. Todas as formas de vida, incluindo a própria Terra, existem apenas para a apreciação e divertimento do homem. Juntamos a isto o fato de que o Cristianismo é uma religião apocalíptica (isto é, acredita que um fim violento do mundo está muito próximo), e temos uma filosofia de violação completa da Terra e seus ecossistemas. É por isso que, quando confrontados com um problema de "desenvolvimento ambiental ou econômico", muitos fundamentalistas proclamam, "Quem se preocupa com o ambiente? Jesus está voltando!" É esta atitude arrogante para com o ambiente que levou a renomada autoridade Budista, D. T. Suzuki a falar sobre o Cristianismo: "O homem contra a natureza. A natureza contra o homem. Religião estranha." O desdém pela Terra opõe-se diretamente ao conceito Hindu e Budista de "ecologia profunda", o qual foi bem resumido pelo Índio Americano Chefe Seattle: "O homem não tece a teia da vida. Ele é apenas um de seus fios. O que ele faz à teia, faz a si mesmo." O Cristianismo ainda mantém uma filosofia perturbadora sobre a espécie humana, dizendo que apenas o homem tem uma alma... os animais são simplesmente "reações químicas". Com esta doutrina distorcida, cometem-se verdadeiros horrores indescritíveis com milhões de outras entidades vivas, diariamente. Para satisfazer o paladar, sacrifica-se rotineiramente os animais. Para satisfazer a vaidade, para criar belos perfumes, tortura-se animais em laboratórios com dosagens mortais de colônias e perfumes. Em nome das tendências da moda, os animais morrem apenas para se tirar sua pele. Comparem isso com a doutrina de ahimsa (não-violência). No Dhammapada (129-130), escritura Budista, Buda diz, "Todos os seres temem a morte e a dor, a vida é preciosa para todos; assim o homem sábio não matará nem causará a morte de nada." E nas escrituras Hindus, o Padma Purna proclama, "Ahimsa paramo dharmal": Não-violência com outras criaturas vivas (ahimsa) é o dever (dharma) mais elevado (paramo)

CAPÍTULO DOIS: CRÍTICAS CRISTÃS... RESPONDIDAS
Crítica no. 1: As escrituras Hindus contradizem uma à outra, enquanto a Bíblia é harmoniosa.
      Vamos examinar a primeira parte, "As escrituras Hindus se contradizem". Se você alguma vez ouvir este comentário, pergunte a quem o fez, "Por favor, cite um exemplo de contradição nas escrituras Hindus?.Até hoje, eu nunca ouvi alguém me dar um exemplo. Esta é uma boa evidencia de que a pessoa nunca chegou a estudar as escrituras Hindus...  êle foi simplesmente ensinado a falar isto quando prega aos Hindus. Continue pressionando-o para citar um exemplo. É claro, existem inconsistências aparentes, mas parecem ser contradições apenas para alguém que não entendeu o propósito da literatura Védica, que é elevar gradualmente os entes viventes até seu estágio de perfeição mais elevada. Há pessoas em diferentes níveis de existência: aqueles que estão no modo de bondade (sattva-guna) são inclinados à introspecção e a terem uma atitude filosófica, espiritual. Aqueles no modo da paixão (rajas-guna) são inclinados a se aperfeiçoarem econômica e sensualmente, e tem uma atitude criativa. Aqueles no modo da ignorância (tamas-guna) são inclinados à preguiça e à intoxicação. É extremamente raro encontrar uma pessoa que esteja em apenas um modo... elas frequentemente compartilham seus atributos entre estes três modos, mas apenas um é o que predomina.
      As partes distintas da literatura Védica são dirigidas para estas classes de diferentes pessoas. Por exemplo, uma pessoa no modo de ignorância não está inclinada a seguir as instruções dirigidas a alguém que esteja no modo de bondade. Assim, certas partes das escrituras Védicas são direcionadas à sua personalidade, para que ele possa gradualmente, e de acordo com sua capacidade individual, purificar a si mesma, e eventualmente ser elevado ao modo de bondade pura (suddha-sattva). As escrituras Védicas parecem confusas apenas para aqueles que estão confusos. Agora vamos examinar a segunda parte da crítica: "A Bíblia é harmoniosa?.Como foi mencionado no capítulo Um, qualquer harmonia na Bíblia é puramente intencional. Quando o cânone Cristão foi escolhido, apenas aqueles livros que refletiam o pensamento filosófico da época foram incluídos. Os livros que eram "contra a corrente" foram descartados. A Bíblia é harmoniosa porque apenas os livros harmoniosos foram incluídos nela. Os Cristãos também apontam as semelhanças dos quatro "Evangelhos", os quatro livros semibiográficos do Novo Testamento. Mas como é demonstrado no Apêndice, o Evangelho de Mateus baseia-se no evangelho de Marcos, e os quatro Evangelhos baseiam-se principalmente numa coletânea dos supostos ensinamentos de Jesus, chamada "Q". E, novamente, ao se colocar apenas quatro dos 50 evangelhos em circulação no tempo da criação do cânone Cristão, é claro que se escolheram apenas aqueles que concordassem entre si.
      Mas, mesmo se não levarmos em conta a questão do cânone Bíblico, ainda há a importuna questão: "Se a Bíblia é tão harmoniosa, por que existem tantas seitas diferentes no Cristianismo... cada uma dizendo ser a represente mais pura da Verdade?" Por exemplo, o Cristianismo é dividido basicamente em três principais escolas de pensamento. Existem os Católicos Romanos, os Protestantes, e os Ortodoxos Orientais. E o ramo Protestante é dividido em várias seitas diferentes: os Adventistas, os Amish, a Igreja Anglicana, a Fé Apostólica, a Assembléia de Deus, os Batistas, os Irmãos, a Igreja Cristã, a Igreja de Cristo, a Igreja de Deus, a Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias (os Mórmons), a Igreja do Nazareno, as Igrejas Congregacionais Cristãs, a Igreja Episcopal, a Igreja Congregacional Evangélica, os Amigos (Quakers), as Testemunhas de Jeová, os Luteranos, os Menonitas, os Metodistas, as Igrejas Pentecostais, os Presbiterianos, o Exército da Salvação, os Unitarianos, a Igreja Unidade de Cristo, e cerca de 66 outras seitas! E isso não inclui as diferentes denominações (sub-seitas) das diferentes seitas! Por exemplo,
os Batistas tem as seguintes denominações: a Convenção Batista Americana, a Convenção Batista Sulista, a Associação Batista Americana, a Conferencia Geral Batista, a Assembléia Batista Bethel, Inc., a Associação Batista Unidade Cristã, a Associação Batista Conservativa da América, a Igreja Batista de Cristo, o Batista de Livre Arbítrio... e cerca de 19 outras denominações. E estas não são apenas "diferenças menores" entre estas sub-seitas. Por exemplo, a Associação Batista Sulista foi criada em 1845 principalmente por causa de sua discordância em relação à escravidão. E hoje, há discordância entre as sub-seitas em assuntos importantes, como na crença em relação à infalibilidade da Bíblia. As outras denominações Protestantes também se dividiram em diferentes sub-seitas: os Metodistas tem 23 diferentes sub-seitas, os Menonitas 15; os Presbiterianos 9; os Mórmons 3; etc. E novamente, cada seita e sub-seita diz representar a verdade da Bíblia em sua forma mais pura... e cada sub-seita é capaz de citar versículos da Bíblia para prová-lo! É muito para a "harmonia" da Bíblia.

      Crítica no. 2: O conceito de ahimsa (não-violência com outras entidades vivas) não é prático e não pode ser seguido, pois mesmo a ação mais simples pode resultar na morte de milhões de outras entidades vivas (germes, insetos, etc.).
      Esta é outra forma da falácia chamada de falácia "branco ou preto", isto é, as duas soluções possíveis do problema estão nas postas dos dois extremos. Em outras palavras, o que eles dizem é, "Uma vez que não podemos evitar a morte não-intencional de outras entidades vivas, não devemos nem mesmo tentar. Nós devemos matar outras formas de vida despreocupadamente?.
      Esta é uma mentalidade verdadeiramente demoníaca. Este tipo de "filosofia" justifica a morte de outras formas de vida para satisfazer o sentido do paladar. Ou para sustentar uma "caça aos pombos" para levantar fundos para um parque. Ou para destruir uma floresta tropical para criar gado para se comer bife. Ou para se cortar um bosque para construir um shopping. Ou para submeter animais a testes que assegurem a segurança dos perfumes, para que seus compradores possam melhor sua atração sexual. Ou para se manter um "esporte" de caça e conservar uma tradição familiar.
      Sim, ocorre a morte inevitável e não-intencional de milhões de formas de vida durante nossos afazeres diários. Mas o propósito de ahimsa é minimizar a matança, não detê-la. Sendo um vegetariano, nós evitamos o sacrifício de criaturas inocentes. Recusando-nos a vestir couros ou peles, reduzimos o sofrimento neste mundo. Recusando-nos a usar cosméticos que foram testados em animais, mandamos uma mensagem às empresas farmacêuticas.
      Mas os comedores de carne dizem, "Os vegetarianos não estão reduzindo a matança. Vocês estão apenas transferindo-a. Ao invés de matarem animais, vocês matam plantas. Na verdade, um vegetariano come mais plantas do que um comedor de carne mata animais! Quantos pés de trigo tiveram que morrer apenas para substituir um quilo de carne, e isso é apenas uma pequena parte de uma vaca?" Este é um ponto interessante. A pessoa que fala isso sem dúvida considera-se alguém inteligente, pesando cuidadosamente os prós e os contras de todo argumento, e chega à sua conclusão pelo uso de uma lógica cuidadosa e do raciocínio dedutivo. Ela provavelmente pensa que é alguém com a mente aberta, "cabeça-feita...? uma pessoa prática, e no entanto misericordiosa. Veremos logo, contudo, que esta sua abertura de mente e sua cuidadosa "pesagem dos fatos" desaparece tão logo ela veja a gratificação de seus sentidos ser desafiada. Em outras palavras, sua compaixão termina onde seu paladar começa. Ela deveria saber dos seguintes fatos: Você tem que usar 16 libras de grãos e soja para que uma vaca produza uma libra de bife comestível. Ou seja, para produzir 500 libras de carne uma vaca de 700 libras precisa consumir 8000 libras de grãos e soja. E você pode alimentar muito, muito mais pessoas com 8000 libras de grãos do que poderia faze-lo com 500 libras de bife. E mais, matar a vaca ocasiona não apenas a morte da vaca, mas a morte de todas as plantas que a vaca comeu durante sua existência. Assim, se a pessoa fosse realmente sincera em seu desejo de reduzir a matança, até mesmo a matança de plantas, ela se tornaria uma vegetariana! Esta proporção de "16-por-1" a respeito do desperdício na produção de carne é um fato largamente aceito. Ninguém pode refutá-lo. Qualquer criador de gado admite que ele compra (ou cultiva) muito mais libras de alimento para seu gado do que libras de carne que ele vende. A produção de carne é um desperdício terrível. A carne alimenta alguns à custa de muitos. Os futuristas prevêem que, com o crescimento da população mundial, a dieta vegetariana será o padrão, uma vez que os limitados recursos do planeta serão incapazes de preencher as demandas da produção de carne. Esta é uma grande razão pela qual a Índia consegue produzir seu próprio alimento (e até exportar o excesso)... porque tantos Indianos são vegetarianos. Se eles mudassem para a desperdiçadora dieta Americana centralizada em carne, não seriam capazes de produzir os grãos e vagens necessários para alimentar o gado. O argumento acima (a respeito da razão desperdiçadora de 16-para-1 na produção de carne) é um argumento-chave nos argumentos éticos, ecológicos e ambientais contra o comer carne. Em assuntos ambientais, por exemplo, os maiores culpados contra o ambiente são as fazendas. Por precisarmos 16 vezes mais de alimento para criar o gado do que recebemos em troco, isto significa que estamos usando 16 vezes mais terra que o necessário para produzir alimentos. E esta terra é constituída principalmente de florestas e pântanos drenados, ambientes que estão sendo extintos, e são essenciais para a diversidade biológica da natureza. Enquanto os EUA condenam o Brasil pela destruição da floresta tropical (a 60 acres por minuto) para formar pastos para o gado, os USA estão perdendo 12 acres de floresta por minuto, principalmente para a agricultura. O maior poluidor de rios, lagos e aqüíferos subterrâneos (para nascentes) não é a indústria manufatureira, mas a indústria agrícola, com o abuso de fertilizantes e pesticidas químicos. Se as fazendas fossem reduzidas a 1/16 (ao adotarmos uma dieta vegetariana), todos ainda seriam alimentados, e a redução da poluição seria enorme. E temos ainda a falta de água. Atingida pela seca, na Califórnia preocupam-se com a falta de água. De fato, o poderoso Rio Colorado não chega mais ao oceano... ele é usado antes de chegar lá, principalmente para a irrigação de grãos e vagens... para alimentar o gado. De acordo com o Departamento de Agricultura americano, mais da metade da água usada nos Estados Unidos é destinada à criação de animais. Vivemos numa época de escassez de recursos naturais, principalmente de combustíveis fósseis (petróleo). Isto é uma preocupação tal que levou os EUA a se empenharem numa guerra contra o Iraque para preserva seu acesso ao petróleo na região do Golfo Pérsico. É interessante repararmos no que o Depto. de Comércio dos EUA descobriu: 33% de todas as matérias primas dos EUA são destinados à criação de animais. Novamente, isto não se destina apenas aos animais, mas inclui o crescimento de grãos e vagens para alimentá-los. Estima-se que são necessárias 2 calorias de combustíveis fósseis para produzir 1 caloria de proteína a partir de grãos de soja. Mas precisa-se de 78 calorias de combustível fóssil para produzir 1 caloria de proteína para a de proteína da carne de vaca. Se apenas um quinto da população dos EUA fosse vegetariana, os EUA não dependeriam mais do petróleo importado. Contudo vários Cristãos dirão que uma dieta vegetariana é "anti-Americana", mas a verdade é que a pessoa sinceramente preocupada com os Estados Unidos (em outras palavras, um patriota verdadeiro) se tornaria um vegetariano!
A poderosa indústria da carne tem uma "resposta" fraca a estes dados condenadores. Ei-la aqui: "A comida que é servida aos animais não serve para consumo humano?.Isso é verdade, mas não é toda a verdade. Essa é uma maneira esperta de enganar o público. Ela não serve para consumo humano por causa do modo que é processada depois da colheita, sem medidas sanitárias. Uma vez que ela seja destinada à alimentação animal, ela sofre um processamento diferente. Mas as colheitas nos campos certamente servem! 95% da aveia cultivada nos EUA é destinada aos animais. Será que devemos acreditar ingenuamente que apenas 5% "atingem os padrões" para o consumo humano? Consideremos também o argumento ético: estima-se que 20.000.000 de pessoas morram por ano, devido à desnutrição, em todo o mundo. Se os Americanos reduzissem seu consumo de carne apenas em 10%, a quantidade de terra, água e energia economizada poderia servir para produzir alimentos vegetarianos suficientes para alimentar 60.000.000 pessoas anualmente. E, para terminar, a carne é desnecessária. Não há nutriente na carne que não seja encontrado numa dieta vegetariana. A comunidade médica constantemente nos aconselha a reduzirmos o consumo de carne. De fato, as únicas pessoas que encorajam o crescimento do consumo de carne são as do Conselho da Indústria Americana de Carne. O que você acha disso?
       Depois da apresentação destes argumentos, você logo vê como seu oponente de debate realmente tem a mente aberta. Se o uso da carne é 1) desperdiçador, 2) sem ética, 3) prejudicial à saúde, 4) degradador do meio-ambiente e, mais que isso, 5) completamente desnecessário, como alguém pode justificar seu uso? Se alguém pratica uma atividade apenas para agradar seus sentidos, e isso provoca dor em outras formas de vida sentientes, podemos ter certeza de estarmos presenciando um exemplo primário de atividade demoníaca.
      "As pessoas com mentalidade demoníaca não sabem o que deve ser feito, nem o que é proibido. Elas ignoram tanto o comportamento adequado quanto a verdade... essas pessoas tolas praticam atividades inúteis que só trazem a dor e a destruição do mundo?.(Bhagavad-Gita 16:7-9)

      Crítica no. 3: a doutrina de que o mundo é uma ilusão é absurda.
      Este é um caso clássico de equívoco, similar ao engano que mencionei antes a respeito de se confundir os Cristãos com vampiros e canibais. Aqui o engano está na definição da palavra "ilusão". A confusão aqui ocorre ao se pensar na palavra "ilusão" com o mesmo sentido que "alucinação" ou "engano", isto é, uma criação da imaginação que não se baseia na realidade. Mas quando os Hindus usam a palavra "ilusão", eles estão usando a palavra no mesmo sentido que se encontra em qualquer dicionário: "uma percepção equivocada da realidade?.
      O exemplo clássico que ilustra este exemplo é o da corda sobre a grama. Alguém pode facilmente pensar que ela é uma cobra. Isso é uma ilusão. Mas a corda existe. A ilusão não está na existência ou não da corda. A ilusão está na percepção incorreta de alguém que percebe a corda como sendo uma cobra. Quando os Hindus falam que o mundo material é uma ilusão, eles não estão dizendo que o mundo material não existe. Estão dizendo sobre a percepção enganosa do mundo, que está no pensamento de que o mundo material esteja separado de Deus. O mundo material pode ser uma manifestação temporária, mas ele existe.

      Crítica no. 4: A doutrina Hindu de que todas as religiões são uma só coisa está errada.
      Isso é uma manipulação completa. Os Hindus não dizem que todas as religiões são iguais. O que os Hindus realmente dizem é que existem vários caminhos para Deus, embora algumas vias sejam mais longas e tortuosas que outras. E algumas religiões são diferentes desvios no mesmo caminho, alguns apontando para atalhos. Mas todas as entidades vivas estão em seu caminho de volta para a Divindade. Elas estão não apenas em diferentes caminhos, mas uma entidade individual pode ocasionalmente dar alguns passos para trás, ou pode parar por alguns momentos.
      É claro que este conceito de "muitos caminhos para Deus" trará discussões com muitos fundamentalistas Cristãos. Eles dizem que o único caminho válido para Deus é o Cristianismo (e, como apontei anteriormente, muitos acreditam que apenas sua seita ou sub-seita específica é válida... até mesmo outras denominações Cristãs estão destinadas ao inferno). Eles apontam o destino que até mesmo os mais corretos Hindus ou Budistas teriam - tão negro quanto o de um pecador que não se arrepende, como um assassino ou estuprador. O Hinduísmo discorda completamente desta atitude elitista. Nós acreditamos que Deus é um Deus de justiça, misericórdia, e compaixão. A visão Cristã é de que se deve temer a Deus, porque Ele é um deus ciumento. Mas o ciúme nasce da insegurança... isso quer dizer que Deus é inseguro?
      Existe um engano em se pensar que exista um Deus Cristão, um Deus Muçulmano, um Deus Hindu, etc. Deus é um, embora Ele seja conhecido por vários nomes. E a percepção dEle é diferente, também. Consideremos um policial, como exemplo deste mundo. Os donos de lojas o consideram como um auxiliar para sua segurança; seus companheiros de ofício o consideram como um bom amigo; seus filhos pensam nele como seu pai; seus pais pensam nele como seu filho; sua esposa pensa nele como seu provedor; e os criminosos na rua pensam nele como uma ameaça. É a mesma pessoa, mas é percebida de vários modos diferentes.
      Do mesmo modo, pessoas diferentes em diversas culturas percebem Deus de maneiras muito distintas. A tradição Judaico-Cristã percebe Deus como ciumento ("pois Eu o Senhor teu Deus sou um Deus ciumento", Êxodo 20:5), retaliador e vingativo ("a vingança é minha; eu retribuirei, disse o Senhor", Romanos 12:19). Os Cristãos clamam orgulhosamente que são "gente que teme Deus", como se destacassem que Deus deve ser temido (como seus sermãos de renascimento falando em "fogo e enxofre" atestam).
      Contrastando com isso, a tradição Védica percebe Deus como karuna-sindhu (o Oceano de misericórdia e compaixão); patita-pavana (o Amigo dos aflitos). "Eu sou o Abrigo e o Amigo mais querido", diz o Bhagavad-Gita (9:18). A perfeição da vida, de acordo com a escola Bhagavata, é prema, ou o amor de Deus, puro e sem adulterações. O amor puro não pode existir onde exista medo ou retribuição.

      Crítica no. 5: os Hindus são idólatras.
      Freqüentemente os Cristãos mencionam este trecho específico da Bíblia: "Não terás outros deuses diante de mim. Não farás imagem esculpida, (...), que esteja acima nos céus, ou abaixo na terra, ou que esteja na água sobre a terra: não te ajoelharás diante delas, nem as servirás, pois Eu o Senhor teu Deus sou um deus ciumento?.(Êxodo 20:3-5). Isso faz parte dos famosos "Dez Mandamentos". Embora esta parte da Bíblia certamente tenha autoria duvidosa (veja o apêndice), para não nos desviarmos do assunto vamos supor por um momento que ela seja válida. É muito claro aqui que Deus está se referindo a "outros deuses". Assim, novamente, eles estão pensando que o Deus Cristão é diferente do Deus Hindu.
      Além disso, eles estão tentando julgar uma cultura baseando-se em sua própria cultura. A Bíblia tem realmente muitas pérolas de sabedoria. Mas os Hindus não a consideram como uma escritura revelada, com autoridade. Os Testamentos, Antigo e Novo, são yavana-shastras, ou as escrituras dos comedores de carne. Os Hindus consideram a Bíblia como seu livro de leis tanto quanto os Cristãos seguem o Manu-Samhita. Se alguém não reconhece a validade da escritura de outra pessoa, é inútil atirar citações e versículos de um ou outro livro.
      Crítica no. 6: Os Hindus adoram a vaca.
      Novamente, esta é uma tentativa de julgar uma cultura pelos padrões de outra. Mas não existe uma "deusa vaca" no panteão Hindu. Provavelmente esta idéia veio aos viajantes que passaram na Índia, vendo as vacas vaguearem livremente nas ruas. Os Hindus reverenciam todas as formas de vida; a vaca surge neste cenário por causa de seu tamanho. Isso é muito semelhante ao hábito americano de permitir que os cães andem livremente nas ruas dos EUA. Junte a isto, cães em circos, partes de supermercados devotadas à alimentação e cuidados com os cães, e a repulsa que o americano típico tem quando descobre que alguns orientais comem carne de cachorro... ora, você poderia pensar que os americanos adoram o cachorro!
      A vaca e o boi têm realmente um lugar especial no coração dos Hindus. Porque a vaca dá leite, ela é considerada como uma das mães do homem (juntamente com a mãe natural, a enfermeira, o Mãe-Terra, etc.). E porque o boi (e o touro) ara os campos e ajuda assim a produção de grãos para a alimentação, ele é considerado como um dos pais da humanidade.
       Crítica no. 7: Os Hindus adoram vários deuses e demônios.
      Eis um outro equívoco. Quanto à "adoração a vários deuses", a escola Mayavadi do Hinduísmo diz que os diferentes deuses são aspectos diferentes da Verdade Suprema Absoluta, Brahman (Deus). Por outro lado, a escola Bhagavata ensina que os diferentes deuses (na verdade, semideuses) são criaturas vivas com poderes distintos que servem a Deus de acordo com suas capacidades, e são subordinados a Deus. Há certas partes da literatura Védica que recomendam a adoração de semideuses específicos para se obter bênçãos específicas. Como mencionado anteriormente, o propósito da literatura Védica é a elevação gradual do ser vivente até o estágio aperfeiçoado do amor a Deus. Assim, alguém obcecado com desejos materiais é encorajado a procurar os semideuses. Mas como declarado no Bhagavad-Gita (7:20), "os que não tem sabedoria por causa de seus desejos procuram os semideuses", mas "os resultados são temporários" (7:23). Portanto, a adoração de semideuses não é recomendada para o bem maior da entidade viva: entregar-se a Deus o é.
      Alguém pode pensar que os Cristãos adoram "muitos deuses", com sua adoração da Trindade (o Pai, o Filho, e o Espírito Santo). E parece que existe uma consideração a Satã num nível semelhante a um deus, pois vários Cristãos consideram que ele está sempre presente.
      E a respeito da "adoração a demônios", este é um equívoco enorme. Os Hindus não adoram demônio algum. Existem algumas formas selvagens de Kali que representam a natureza material, ou o poder destrutivo de kala, ou o fator tempo. Mas ela é a energia personificada exteriorizada de Deus, sendo assim é Sua serva obediente. E existe a força cruel de Narasimha, uma encarnação de Narayana, que apareceu na forma de metade homem, metade leão, para  proteger o santo Prahlada Maharaha, oferecer salvação ao demônio Hiranya-kashipu, e cumprir a promessa de Brahma. Talvez um ignorante possa considerar isto como uma forma "demoníaca", mas não se trata disso.
       Crítica #8: a atitude Hindu para com o sofrimento neste mundo: uma vez que as pessoas estão apenas sofrendo as conseqüências de seu próprio "karma", não há razão para ajudarmos nossos companheiros.
      É verdade que o mundo material é um lugar de misérias, e a causa de nosso sofrimento se deve à nossas más ações. Ninguém sofre injustamente.
      Mas há um forte destaque nas escrituras Védicas, de que devemos ajudar a melhorar a vida de outros: "É o dever de todos dedicarem sua vida, inteligência, riqueza, palavras, e seu trabalho para o benefício de outros seres viventes?.(Bhagavata Purana 10.22.35)
      O trabalho para o bem-estar material é sempre bem-vindo e encorajado. Mas a literatura Védica também deixa claro, sem palavras dúbias, que o melhor trabalho para o bem-estar não é apenas através da compaixão, mas através da compaixão iluminada. E o que é esta iluminação? É a realização de que não somos estes corpos materiais, que certamente serão destruídos em seu devido tempo. Nossa natureza atual é o espírito puro. Ações para o corpo material apenas produzem resultados temporários. Para resultados permanentes, precisamos beneficiar nossa natureza espiritual.
      Se uma pessoa cai de um navio, você não diz que o resgate foi um sucesso se consegue salvar apenas suas roupas. Esta é exatamente a situação com os filantropistas mundanos que se preocupam apenas com o cuidado e conforto da cobertura externa da alma (o corpo material).
      Um sentimento similar é expresso na Bíblia em Mateus 26:7-11... certas pessoas reclamavam sobre o valioso óleo que estava sendo dado a Jesus, ao invés de ser vendido, com os rendimentos sendo dados para auxiliar os pobres. Jesus disse que "os pobres sempre estarão aqui. Eu (o instrutor espiritual) não?.
      A compaixão real, iluminada, significa ensinar às pessoas sobre o dharma, sobre o  conhecimento de Deus. Significa instruí-los sobre a causa última de seu sofrimento (suas atividades pecaminosas anteriores), e como evitar o sofrimento no futuro. Quaisquer atos de compaixão para com o corpo devem vir junto com atos de compaixão para com a alma. É por isso que quando os templos hindus alimentam os famintos, eles não estão apenas distribuindo pratos vegetarianos... eles distribuem prasada, alimento santificado, o qual é consumido como um ato de devoção a Deus.
      Outro problema aqui é que muitos Cristãos confundem o "servir a Deus" com o "servir ao homem". Existe um universo de diferenças entre os dois. Aqueles que servem ao homem atingem a natureza do homem, aqueles que servem a Deus atingem Sua natureza. Um tipo de serviço é nobre, com resultados temporários, enquanto outro tipo de serviço é infinitamente mais nobre, com resultados eternos.

      Crítica no. 9: A crença de que Satã não existe. Isto, por si só, já é um truque de Satã... ele deseja que as pessoas não creiam em sua existência.
      Nós não acreditamos em que algo seja separado de Deus, ou na existência de um mal ou espírito supremo "anti-Deus".
      Na literatura Védica, há referencias aos "asuras", ou demônios, referindo-se aos indivíduos que, cegados pela ignorância, lutam contra o dharma para atenderem seus próprios interesses egoístas. Mas um dos nomes de Deus é "Vishnu", que significa "Aquele que tudo penetra, em todos os lugares". Deus está em cada átomo, assim como nos corações e todos... mesmo nos "demônios". Existe uma narração nos Puranas sobre o poderoso demônio Hiranyakashipu. Ele odiava o Senhor Vishnu com tanta força que estava determinado a matá-lo. Usando seus poderes místicos, ele chegou a viajar para outros planetas procurando Deus. Mas o Bhagavata Purana (8.19) conta que Deus estava "escondido no último lugar que Hiranyakashipu teria pensado em procurar... em seu próprio coração?.
      É muito interessante que este conceito de "Deus contra Satã" gere um paradoxo no Cristianismo: considera-se Satã como sendo o inimigo e castigador de Deus. Ele trabalha contra Deus, e traz os males para a Terra. Se Deus não pode deter Satã, então Ele não é todo-poderoso, embora Ele possa ser todo-bom. Mas se Ele pode parar Satã, então Ele é todo poderoso, mas uma vez que Ele escolheu não detê-lo, então ele não é todo-bom. Com esta filosofia fortemente dualística (que tem suas raízes no Zoroastrianismo), Deus não pode ser todo-bom e todo-poderoso. 
      O Zoroastrianismo, fundado por volta de 500 a.C., basicamente acredita em dois Deuses: Ahura-Mazda, a Divindade da luz e do bem, e Ahriman, a Divindade das trevas e do mal. Porque as coisas podem ser vistas apenas pela ausência de luz (trevas), eles crêem que o Deus do Mal criou o mundo material... e também engana a humanidade. Mas Ahura-Mazda manda um Salvador para levar as pessoas de volta à Luz. Como vemos, existem várias semelhanças entre isso e o Cristianismo. Não apenas o conflito Satã/Salvador, mas também a doutrina de que a natureza é intrinsecamente má.
      Este conceito de existir um "Maligno" como Satã para um bode expiatório é freqüentemente usado como uma desculpa para se fugir da responsabilidade pessoal. É fácil culpar as próprias fraquezas e falhas dizendo que "o Diabo me fez agir assim".
      Mais ainda, a crença na existência do demônio é usada para se promover idéias de separatividade, numa mentalidade "nós-contra-eles". Por exemplo, um furacão que danifique um templo Hindu é visto por vários Cristãos como "a ira de Deus Todo-Poderoso contra os idólatras", mas se um raio atingir uma igreja Cristã, ele foi "o trabalho do demônio".

      Crítica no. 10: O conceito Hindu da inexistência do mal.
      Novamente,  o conceito do mal está profundamente enraizado no dualismo. O que é percebido como mal na realidade é ignorância. De fato, quanto mais "mal" alguém perceba, tanto mais esta pessoa está ignorando sua própria constituição (seu relacionamento com Deus). Em tal estado de "mal" mental, alguém pode cometer atos verdadeiramente abomináveis em prol de seus próprios interesses egoístas (desejos de riqueza, poder, etc.). É assim simples. Seria uma irresponsabilidade tentar culpar isso pela influencia de poderes diabólicos.

      Crítica no. 11: Apenas o Cristianismo tem uma solução para o problema para o pecado.
      Isto é intrigante. Embora os Cristãos acreditem que não existia uma alma individual antes da concepção no útero, eles ainda sustentam que todos os homens nasceram em pecado, manchados com o "pecado original". Embora Jesus estimulasse as pessoas a serem "perfeitas como seu Pai no céu é perfeito", eles dizem que o homem é intrinsecamente uma criatura pecaminosa, e com a morte de Cristo na cruz ele limpou todos nossos pecados... tudo que temos a fazer é reconhecermos este sacrifício. Mais ainda, muitos Cristãos acreditam que não há necessidade de parar de pecar, enquanto se tiver fé no sacrifício de Cristo.
      O Hinduísmo sustenta que as atividades pecaminosas devem-se à ignorância. E o Hinduísmo tem realmente uma solução para o problema do pecado, que consiste na aquisição de conhecimento, entendendo que a causa-raiz do pecado é o desejo. Toda atividade pecaminosa, e o sofrimento resultante, deve-se ao desejo. Um rápido olhar no mundo e podemos ver que praticamente todos estão numa corrida enlouquecida para explorar a Terra e outras entidades vivas (incluindo seus companheiros humanos) no desejo de prazer. O lema da civilização é "Aproveite"! Divirta-se!". A sociedade humana é movida pelo desejo. Até mesmo nossa economia depende dele.
      O desejo é a causa das atividades pecaminosas. E as atividades pecaminosas são a causa do sofrimento. Toda a desumanidade das pessoas deve-se ao desejo. O desejo de riquezas semeia o crime e a suspeita. O desejo de adoração resulta em inveja e discussões. Na verdade o desejo é uma teia, com o desejo alimentando-se de outro desejo. Deseja-se parecer atraentes para o sexo oposto, deseja-se riquezas, um belo car, belas roupas, etc.
      A própria base do pensamento Hindu e Budista está em ressaltar a importância da necessidade de se controlar o desejo. O Bhagavad-Gita (3:37) diz que o desejo é o pior inimigo do mundo. Simplesmente ao contemplar o desejo, alguém cai da plataforma espiritual (2:62-63), e o desejo é um dos três portões que levam a uma futura existência infernal (16:21). Mas ao se conquistar os desejo, tornamo-nos pacíficos e serenos.
      Embora Jesus tenha claramente instruído que não se possa "servir simultaneamente a Deus e a Mammon (cupidez personificada, isto é, desejo)", é claramente evidente que o Cristianismo nunca se preocupou com o desejo. Por que? Porque ao invés do entendimento da necessidade de purificação e transformação de sua própria consciência (como uma necessidade para a salvação), eles acreditam que a salvação é uma "recompensa" por sua fé. Casualmente, esta é uma das causas principais do crescimento do Cristianismo (especialmente na Índia). Uma das táticas principais que a maioria dos missionários Cristãos usa é ensinar aos Hindus que eles não precisam seguir suas restrições religiosas. Basta que eles acreditem em Jesus  e eles podem comer carne, beber, e divertir-se... e ainda ir para o paraíso! Eles são ensinados que disciplinar a mente e controlar os sentidos é desnecessário, ou mesmo insalubre. As atividades pecaminosas são como o fogo, e o desejo é o combustível que alimenta as chamas. Não se pode extinguir o fogo derramando-se combustível nele.
      Em resumo, a tática Cristã é tentar abafar o fogo... mas o fogo logo retorna. A estratégia Védica e Budista é cortar o abastecimento de combustível.

CAPÍTULO TRES: DIÁLOGOS COM CRISTÃOS

      O que se segue é uma compilação de diálogos que tive com Cristãos. O que está em itálico é o comentário/pergunta do Cristão, e o que se segue é minha resposta. 
      Vocês aceitam Jesus Cristo como sendo filho de Deus?
      É claro que sim. Está dito no Bhagavad-Gita (14:4) que Deus é o pai de tudo... mesmo de insetos e plantas, além dos seres humanos. Assim sendo somos todos Seus filhos, e isso, é claro, inclui Jesus. 
      Mas vocês aceitam Jesus como filho unigênito de Deus?
      Deus é tão limitado que só pode gerar um filho? No Bhagavata Purana (10.90.34), encontramos uma lista parcial de outros filhos unigênitos de Deus: Pradyumna, Aniruddha, Diptiman, Bhanu, Samba, e outros.
       Mas Jesus era especial. Ele morreu por Sua gente. Pradyumna morreu por sua gente?
      Não. Pradyuma é descrito como sendo semelhante a Seu pai... Ele é sat-chit-ananda-vigraha, isto é, eterno, pleno de sabedoria e felicidade. Ele não tem corpo material, e não pode morrer. 
      Se Ele não morre, então onde Ele está?
      Às vezes deus manifesta-Se, e às vezes Ele está imanifesto (invisível ante nossos olhos). Ele é com o sol... quando o sol se põe, ele morreu? Não, ele apenas está invisível para nossos olhos materiais. Está além do horizonte, mas ainda está lá.
      Este conceito de Jesus "morrer por sua gente" é uma falácia filosófica conhecida como "argumentum ad misericordium", ou "apelo à piedade". Ocorre quando alguém apela à piedade de outrem ao invés de dar evidencias que suportem uma conclusão. Além disso, muitas pessoas morrem por sua gente, ou por uma causa, ou por seu país, ou por sua religião. Os soldados renunciam à suas vidas por outras pessoas. Isto os transforma em salvadores divinos?

      O sofrimento e morte de Jesus na cruz dificilmente são um "argumento discutível". ... são uma expressão do amor de Deus pelo mundo.
      E por que Deus precisa mandar seu filho para esta morte?
       Porque "Deus amou tanto mundo que lhe deu seu filho unigênito, para que aquele que nele acredite não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). 
      Uma bela frase, mas ela não responde a pergunta. Deus é todo-poderoso. Ele pode liberar qualquer um instantaneamente, se assim Ele o desejar. Ele não tem necessidade de mandar Seu filho para a morte.
      E a morte não existe para a alma, então não há a questão de alguém "perecer". Nós sempre existimos, e sempre continuaremos a existir, diz o Bhagavad-Gita (2:12).
      É importante entender o papel do raciocínio inteligente em nossa busca por Deus. O fervor emocional pode vir a atrapalhar a lógica e o bom senso.
      Também, aparentemente o suposto "milagre" da ressurreição existiu supostamente para trazer fé entre os Cristãos. Esta é uma das várias declarações do quando a fé entre os Cristãos é "especial". Porém, qual o valor dos milagres para trazer a fé? Se você apontar um milagre no Cristianismo, você dirá que ele é um trabalho de Deus. Mas se alguém apontar um milagre em outra religião, você imediatamente bradará que é "um truque de Satã".   

        Mas apenas o Cristianismo tem a solução para o problema do pecado: Adão. O primeiro homem pecou. O homem, até os dias de hoje, herdou este pecado ao nascer. Em outras palavras, o homem nasce em pecado, e está destinado a passar a eternidade no inferno. Mas, tendo apenas fé em Jesus Cristo, você pode ser salvo. Isso é uma expressão do amor e da misericórdia de Deus.
      Ameaçar alguém com uma eternidade de tormentos no inferno dificilmente pode ser uma expressão de amor e misericórdia. Nós Hindus acreditamos que Deus é um Deus de justiça. Ninguém é mais justo que Deus. Este conceito do "homem herdar os pecados de Adão" não fala de um Deus de justiça. Se um governo prendesse e castigasse os cidadãos por conta dos crimes de seus antepassados distantes, nós ficaríamos indignados com tal exibição de ilegalidade e desrespeito pelos direitos humanos mais básicos. E você atribui isso a Deus? Como isso é uma "solução para o problema do pecado"?
       Mas Deus tornou nossa liberação muito simples. Apenas tenha fé em Jesus. A graça de Jesus não é adquirida, ela é dada gratuitamente. Tudo que temos a fazer é aceitá-la. Os que não o fizerem estarão eternamente perdidos.
      Está se tornando mais e mais óbvio a enorme distancia que separa a concepção Cristã de Deus da percepção Hindu de Deus. Acreditamos não apenas que Deus seja um Deus de justiça, mas também um Deus de misericórdia, compaixão e amor insondáveis. Os Cristãos acreditam num inferno eterno de tormentos e dores intensos. Qual o valor de uma punição se não há esperança de que ela termine? Qual o valor disso, se a alma não tem uma oportunidade de se corrigir, e aplicar as lições que aprendeu? Este conceito de uma punição eterna não é um conceito de reabilitação, mas um conceito de vingança nua e crua. Esta não é uma atitude de um Deus de amor, misericórdia, e compaixão. Viver por apenas alguns poucos anos neste planeta, e com toda a eternidade dependendo destes anos? E considere a iniqüidade deste mundo: uma criança pode nascer numa casa confortável numa cidadezinha da América. Outra pode nascer numa favela infestada por criminosos. Uma criança evidentemente tem tudo contra ela, tendo nascido num clima de pecado e ódio. Ambas serão julgadas igualmente? E qual o critério a usar para julgar uma pessoa depois da morte?  Uma pessoa que seja 51% pecadora e 49% boa queimará no inferno tanto quanto uma pessoa que seja 99% pecadora? Há várias, muitas iniqüidades no conceito de uma punição interminável e condenação eterna. E isso não é a atitude de um Deus de justiça.

      Vocês Hindus e Budistas crêem na reencarnação. Mas qual o valor da reencarnação se não se pode recordar as vidas passadas? Também não existe reabilitação aí.
     O propósito final da reencarnação não é a punição (embora a alma corporificada certamente receba seu quinhão dos males de suas existências corporificadas). A alma transmigra de outros corpos simplesmente porque este é o desejo da alma. Deus é muito gentil. Se nós quisermos viver com Ele, isto é, se nós verdadeiramente desejarmos viver com Ele, nós seremos liberados do samsara, o ciclo de nascimentos e mortes. Mas se nós desejarmos permanecer aqui no mundo material, sugando-o, tentando tirar o máximo de cada gota de prazer  deste mundo, tentando construir um reino de Deus sem Deus, então nós teremos o que desejamos... outro corpo material. Mas, mesmo depois de recebermos outro corpo material, nós recebemos oportunidade depois de oportunidade para nos corrigirmos e perseguirmos o interesse real de nosso ser... reabilitarmos nosso relacionamento com Deus.
     E depois de muitas, milhões de vidas, uma pessoa sábia começará a compreender que não importa o esforço material que ela venha a fazer, os resultados terminam na hora de sua morte. Ele não pode carregar sua riqueza consigo para seu próximo corpo. Tendo esgotado seus recursos materiais, ele pode finalmente iniciar sua vida espiritual. Está escrito que alguém se torna aplicado em sua vida espiritual apenas quando ele está materialmente frustrado. Assim até mesmo as chamadas misérias materiais podem ser na realidade uma bênção disfarçada. Existe um ditado Hindu que diz "se Deus gosta de você, Ele lhe dará tudo, mas se Deus amar você, Ele tirará tudo de você". Desta maneira, mostrando Sua misericórdia especial, a criatura viva rapidamente realiza que Deus é a única coisa que importa.

        Mas veja como Deus abençoou a América! Certamente isso sinaliza que ele favorece aos Cristãos.
      Se este fosse o caso, então Deus realmente favoreceu os Muçulmanos, pois alguns países Árabes ricos em petróleo tem a maior renda per-capita do mundo, e eles são abençoados com um clima favorável. Você não pode igualar a felicidade material com as bênçãos de Deus. Tiranos e déspotas tem levado vidas na luxúria. É importante compreender que a riqueza material nem sempre é o mais importante na vida do ser vivo. Ele pode estar encantado pela ilusão, pensando, "O mundo material não é tão ruim. Quem precisa de Deus?" A riqueza verdadeira é a riqueza espiritual. 
      A propósito, é questionável considerar-se os Estados Unidos como sendo um país "abençoado". O uso de drogas cresce, os crimes assuntam tanto as cidades quanto os campos. Ocorrem milhões de abortos por ano, 45.000 assassínios por ano, franco-atiradores em escolas. Embora o Cristianismo tenha tido se estabelecido firmemente desde o início dos Estados Unidos, ainda é muito óbvio que algo foi extremamente mal na estrutura social. E você ainda critica os modos "retrógrados" da Índia e quer exportar a cultura Ocidental para eles? Até mesmo em sua Bíblia Jesus admoestou os hipócritas, dizendo, "Antes de remover o cisco do olho de teu irmão, remova a trave diante do teu próprio olho".
      Nas casas Hindus na Índia, o centro da casa é o altar da família, onde se compartilham os valores espirituais. Na América, o centro da casa é o aparelho de televisão, onde a distração favorita é a comédia de costumes ("sitcoms"), onde se aprende habilidades anti-sociais (a fonte favorita de "humor" dos sitcoms normalmente tem origem nas ofensas mútuas entre seus personagens).
      Na Índia, o objetivo de todo Hindu é visitar diferentes locais de peregrinação (especialmente depois da aposentadoria), tais como Varanasi, Vrindavan, Badarikashram, e grandes templos como os de Venkateswar, Jagannath e Rangaksetra. Nos Estados Unidos, os lugares de peregrinação estão no Disney World ou, depois da aposentadoria, Las Vegas, uma meca de jogos, intoxicação e prostituição legalizada.

            Mas se Deus é um Deus de amor, por que Ele não retira a opulência das pessoas?
      Isso depende da evolução espiritual da pessoa. Tirar a opulência de alguém é benéfico apenas para a pessoa que esteja pronta para se entregar a Deus. Outras pessoas ficariam aborrecidas e amargas com seu azar.

            Se uma pessoa crê na reencarnação, ela pode pensar "Ah, eu vou aproveitar esta vida... na próxima eu me preocuparei mais seriamente com Deus".
      Sim, ele pode pensar desta maneira. Mas ele poderá não estar, da próxima vez, numa posição de se preocupar com Deus. Seu próximo corpo pode ser de um animal qualquer, de uma pulga... ou mesmo uma bactéria dentro dos intestinos da pulga. Esta forma humana de vida é na verdade raramente obtida. Ao invés de perseguir a gratificação dos sentidos, que é tão facilmente obtida em outras formas de vida, nós deveríamos usar plenamente esta forma de vida humana para a realização de Deus.
       Então seu conceito de reencarnação em outras espécies está relacionado com seu conceito de não-violencia e vegetarianismo. Mas os animais não tem almas. De acordo com o livro do Gênesis na Bíblia, o homem recebeu o domínio sobre todos os animais. Então não existe pecado ao se matar animais. Os animais estão aqui para nosso prazer. 
      Quanto ao "domínio sobre os animais" que o homem recebeu, vamos procurar no dicionário o que a palavra "domínio" significa: "autoridade ou controle". Um homem tem "domínio" sobre suas crianças, mas isso não lhe dá o direito de matá-las e come-las. E quanto à perniciosa doutrina de que "os animais não tem almas", NÃO existe absolutamente um lugar da Bíblia que diga isso, ou mesmo que sugira a inexistência de alma nos animais. Essa doutrina não é absolutamente encontrada na Bíblia, mas resulta das especulações de Aquino e Agostinho. Os animais sentem dor, nós sentimos dor. Nós tememos a morte, os animais temem a morte. Os animais buscam o prazer e o calor, assim como nós. Mesmo os gregos antigos, como Platão, observaram que os animais sonham (como fica evidente nos latidos dos cães quando dormem).
       Mas os humanos são extremamente inteligentes. Isto os torna especiais, isto é evidencia de uma alma.
      Uma criança pequena tem menos inteligência que um cão. Isto significa que a criança não tem alma? E quanto às pessoas com seu estado mental degenerado? Elas não tem alma?

        Mas se todas as formas de vida tem a mesma qualidade de alma, por que os animais não são tão inteligentes quanto os humanos?
      Porque eles podem expressar-se apenas através do corpo em que estão. Por exemplo: suponha que um programador de computadores tenha que programar dois computadores diferentes. Um deles é um micro-computador de 8 bits e 1 MHz, e o outro é um mainframe de 32 bits de 50 MHz. Neste exemplo, o programador representa a alma, e os computadores são os cérebros dos distintos corpos que a alma pode habitar. Se você olhar o que os dois computadores produzem, verá que a saída do mainframe é muito mais rápida e melhor que a do pequeno computador. A partir daí você assumiria que o programador do mainframe é mais esperto que o do micro-computador. Mas, na realidade, é o mesmo programador! Ele está limitado apenas pelo computador que ele usa. Da mesma forma, alguém pode pensar que uma alma humana é diferente (e muito mais avançada) que uma alma animal.
      A propósito, esta analogia também é útil para explicar os resultados de danos no cérebro. Depois de sofrer tal dano, uma pessoa pode agir confusamente, ou perder a habilidade de controlar suas emoções, etc. Mas sua alma está intacta. Apenas o mecanismo de expressão de sua alma (o corpo e cérebro) que foram atingidos. Assim também um computador com um teclado danificado dificultaria enormemente as atividades do computador, embora seu programador continue sendo o mesmo de sempre.
      O Bhagavad-Gita explica isso da seguinte maneira: algumas almas incorporadas são comparadas ao fogo encoberto pela fumaça. Estas são as almas nos corpos humanos, onde pode se perceber um pequeno brilho da consciência de Deus. Outras almas são comparadas a espelhos cobertos de poeira, como as almas dos animais... a natureza espiritual destes seres é quase imperceptível. E, finalmente, as outras almas corporificadas podem ser comparadas a um embrião dentro do útero, representado as almas em plantas, onde suas consciências estão tão encobertas que são imperceptíveis.
       Então a injunção de não matar outras entidades vivas parece ser importante para você. Então por que ela não é mencionada na Bíblia?
      É mencionada, em Êxodo 20:13 onde está a lista dos Dez Mandamentos: "Não matarás". 
      Nós interpretamos isso como significando, "Não assassinarás (outro ser humano)".
      "Interpretar", de acordo com o dicionário, significa "explicar em termos familiares o que está colocado em palavras obscuras". A sentença "não matarás" dificilmente pode ser considerada como obscura. É clara como cristal, e não precisa de tal "interpretação". 

        Mas isto é parte do Antigo Testamento. Nós, como Cristãos, estamos mais preocupados com o Novo Testamento, e os ensinos de Jesus. Por que Jesus não disse nada contra comer carne?
      Na verdade, Jesus tornou os mandamentos ainda mais restritivos. Em Mateus 5:21-22, Jesus citou o mandamento "não matarás", e então disse que mesmo alguém que esteja com raiva está arriscando sua salvação.  
      Além disso, como você sabe que Jesus não se pronunciou contra a alimentação com carne? Jesus viveu por 33 anos, mas a Bíblia fala apenas de sua infância e dos últimos três anos de sua vida. Todas as falas de Jesus na Bíblia podem ser lidas em menos de uma hora. Depois de 33 anos, apenas uma hora de palavras com valor? Alguns estudiosos acreditam que Jesus era um Judeu Essênio; vários dentre eles praticavam o vegetarianismo. 
      Talvez apenas uma hora de sua fala tenha sido anotada, mas tudo que precisamos saber de importante está na Bíblia.
      Isso é uma declaração muito audaciosa. Lembre-se, Jesus nunca compilou os ensinos do Novo Testamento, nem escolheu quais livros entrariam no cânone, nem jamais escreveu qualquer um dos livros. Outras pessoas o fizeram, e elas foram movidas por motivos desconhecidos.
       Se Jesus se preocupava tanto com animais, por que ele multiplicou os pães e os peixes? Por que não apenas pães e vegetais?
      Jesus pediu que os discípulos trouxessem o que estava disponível, e eles responderam, "Temos apenas cinco pães e dois peixes". Mas, mesmo que isso realmente tenha acontecido, isso não apóia a matança de animais. Se você vive num lugar como o Oriente Médio, isso é uma coisa. Mas sacrificar animais quando as prateleiras dos mercados estão cheias de grãos, frutas e vegetais é outra coisa diferente. Causar o sofrimento a qualquer entidade viva é uma grande ofensa. 
      Falando de um ponto de vista realista e prático, se nós não comêssemos os animais, eles superpopulariam a Terra.
      Isto é tolice, uma visão verdadeiramente curta. Os animais nas fazendas são forçados a se reproduzir, especialmente através da inseminação artificial. Encorajar sua produção e dizer, ao mesmo tempo, "Temos que come-los, ou eles superpovoarão a Terra" é um pensamento verdadeiramente demoníaco.
       Mas e quanto aos animais selvagens? Com o fim de seus predadores naturais, suas populações devem ser limitadas. Os caçadores humanos tomam o "nicho" ecológico deixado pela desaparição dos predadores.
      Dificilmente os predadores humanos preencheriam o nicho ecológico dos predadores naturais. Tais predadores procuram caças "fáceis", de forma que eles atacam automaticamente apenas a presa mais fraca ou doente, o que permite que apenas os melhores adaptados ou mais fortes sobrevivam, deixando estas características prosseguirem através de seus genes para o bem das espécies. Caçadores humanos, por outro lado, invariavelmente procurando um "troféu", perseguem o maior e mais forte membro da manada. Eles não perseguem os membros mais fracos que um predador natural cobiçaria. Isso é totalmente contra as leis da natureza.
      Se os caçadores fossem verdadeiramente sinceros em suas afirmações de que estavam fazendo isso para auxiliar a restaurar o equilíbrio da natureza, eles imediatamente parariam sua extinção dos predadores naturais, e ajudariam a restaurar as áreas que permitem o crescimento da vida selvagem.    
     Me parece que sua gente se preocupa em adorar a criação, e não o Criador.
      Tanto o respeito pela criação quanto o respeito pelo criador andam lado a lado. Como o Chefe Seattle disse, "aqueles que abusam da criação desprezam o Criador". Como você pode dizer que adora alguém se você desdenha da criação? Se você fizesse vandalismo nos terrenos de seu empregador, qual o valor de afirmar que o admira e respeita?

        Já existe miséria humana suficiente neste mundo. Por que desperdiçar tempo e energia preocupando-se com animais? Primeiro, cuidemos de nossos parceiros humanos, e depois vamos nos preocupar com os animais.
      Primeiro, precisamos de tempo e energia para deter nosso abuso com os animais. Segundo, este mundo material sempre será um lugar de sofrimento. Você pode tentar reduzir este sofrimento, mas sempre existirá sofrimento aqui. E dizer "esperemos até resolver os problemas da humanidade" é irresponsável porque isso nunca ocorrerá. Terceiro, é muito claro que nosso uso dos animais para alimentação é responsável por uma grande quantidade da miséria humana (fome, doenças, etc.). Quarto, estes abusos contra as criaturas vivas também estão nos ferindo. Por exemplo, os pântanos são importantes para o controle de enchentes (agindo como "esponjas" gigantes para absorver o excesso das chuvas, e depois liberando lentamente o excesso). Ao destruir os pântanos, estamos apenas ferindo a nós mesmos. A intromissão com a natureza acaba apenas ferindo a humanidade, no final das contas. E finalmente, há a lei sutil do karma. O tratamento errado dado a outras entidades vivas retorna ao homem na forma de reações pecaminosas no futuro. Assim, quem for sincero em seu desejo de aliviar o sofrimento de seus companheiros humanos tentará evitar causar dores desnecessárias aos animais.

          Como você sabe que suas escrituras são válidas? Nós dizemos que suas escrituras são inúteis. E, aparentemente, você pensa que nossa própria Bíblia também não tem valor.
      Falando por mim mesmo, eu posso dizer que seguir os princípios Védicos me transformou numa pessoa melhor. Quanto à Bíblia, nós não a aceitamos como uma escritura revelada, mas certamente nós não a consideramos como inútil. Ela foi útil para elevar as pessoas daqueles tempos antigos e colocá-las em um nível mais elevado de consciência. Basicamente, a Bíblia instrui, "Seja bom. Não mate nem roube. Adore a Deus. Faça aos outros o que você gostaria que fizessem a você".
      Mas nós acreditamos que nossas próprias escrituras, tendo sido divinamente transmitidas ao homem, nos colocam num caminho mais próximo a Deus, num nível mais elevado de consciência, e num plano ético e moral muito mais elevado.
      É como a ciência dos números: primeiro você tem a aritmética; a seguir você caminha para a matemática. Prossegue mais alto com a álgebra, e ainda mais alto com o cálculo. A existência do cálculo infinitesimal não nega, nem mesmo elimina, a importância da aritmética básica.   
      Do mesmo modo, certas escrituras estão num plano espiritual mais elevado. Mas isso não nega as escrituras inferiores. Elas também tem seu lugar. 
      E este conceito de planos mais elevados da consciência de Deus reflete-se até mesmo na Bíblia: Jesus disse, "Eu ainda tenho muito mais coisas para lhes dizer, mas vocês não as podem suportar agora" (João 16:22). 
APÊNDICE: Autoria da Bíblia
       Esta é uma lista da autoria da Bíblia, de acordo com os mais modernos especialistas. Esta informação pode ser encontrada pesquisando-se qualquer enciclopédia. Os especialistas baseiam suas conclusões em evidencias cuidadosamente pesadas... existe uma razão pela qual eles agem assim. Embora vários Cristãos (e especialmente a maioria dos fundamentalistas Cristãos) tentem reduzir ou mesmo ignorar estas conclusões dos especialistas, permanece o fato de que eles são completamente incapazes de contra-argumentar estes argumentos através de evidencia alguma. Embora eles sejam rápidos em aceitar os dados arqueológicos que autentiquem uma parte da história bíblica, e eles sejam também rápidos em aceitar as conclusões  dos especialistas quanto à natureza questionável das escrituras de outras religiões, eles desprezam completamente um estudo crítico e equilibrado de sua própria escritura supostamente "infalível", a Bíblia. O que é irônico, uma vez que suas palavras que reclamam a superioridade espiritual baseiam-se na premissa de que a Bíblia é perfeita e infalível.
      Nas análises seguintes, é importante observar as referencias à "edição", "re-escrita", e "acréscimos" feitas aos livros da Bíblia. Estas mudanças na Bíblia podem fazer alguém se perguntar, "Por que alguém achou necessário mudar esta escritura? Qual era sua motivação? O que está faltando da escritura original? Ou o que ela dizia que alguém sentiu necessário ser mudar? E quem fez a mudança?"
      Depois de ler esta seção, a questão óbvia que vem à mente é, "Como é que alguém pode basear sua vida, e condenar outras religiões, baseando-se nesta escritura?"

O ANTIGO TESTAMENTO

      Não é necessário ser um especialista para perceber que raramente se encontra uma auto-biografia nele. Ele foi escrito principalmente na terceira pessoa ("ele disse", ou "ela disse", ao invés de "eu disse"). Os pesquisadores dizem que a grande maioria do Antigo Testamento consiste de histórias que foram transmitidas através do falível método da transmissão oral antes de finalmente ser escrito. Existiu um longo caminho entre a criação destas histórias até o tempo em que elas vieram a ser compiladas... e esta jornada envolveu contadores de histórias e editores.
      Também é importante notar que quase nenhum dos livros do AT tem "versículos assinados". Cristãos e Judeus citam diferentes autores "tradicionais", embora eles tenham pouca ou nenhuma evidencia que sustente seus pontos de vista. Também existe um engano comum entre os vários Cristãos, que consideram que os livros são escritos por indivíduos, ao invés de sobre indivíduos. Por exemplo, vários Cristãos acreditam que um homem chamado Jó escreveu o "Livro de Jó" do Antigo Testamento. Mas nele, como em outros, "de" significa "sobre, não "por". Isso é muito claro desde o primeiro versículo do livro: "Havia um homem da terra de Uz, cujo nome era Jó..." (Jó 1:1)
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio: Os cinco primeiros livros da Bíblia são conhecidos como "Pentateuco", e a tradição atribui a autoria destes livros a Moisés. Isso é altamente improvável pois estes livros falam da morte de Moisés (Deuteronômio 34:5)! Na verdade, estes livros são trabalhos anônimos e combinados. Os pesquisadores têm evidencias abundantes de que o Gênesis foi compilado de várias fontes diferentes. Eles também pensam que o Êxodo e o Levítico foram escritos por membros do clero nos séculos 5 e 6 aC.
Josué: Os pesquisadores sustentam que este livro surgiu de várias fontes distintas. As mais antigas passagens do livro são do século 10 aC, mas foram re-escritas por volta do século 7 aC pelos membros da escola Deuteronômica. Por volta do século 5 aC, pessoas motivadas principalmente por assuntos clericais acrescentaram ou re-escreveram toda a segunda metade do livro
Juízes: A autoria tradicionalmente atribuída ao livro é de Samuel. No entanto, os estudiosos acreditam que ele foi escrito depois de sua morte; acredita-se que os capítulos 2-16 foram escritos por membros da escola Deuteronômica, e os capítulos 17-21 são considerados como sendo um acréscimo dos sacerdotes do século 5 aC.
Rute: Nada se sabe sobre o autor ou quando ele foi escrito. Os estudiosos apontam certas referencias no livro que mostram que ele teria sido escrito num período "pós-exílio", provavelmente em alguma época entre os séculos 4 e 2 aC.
Samuel (1 e 2): Os especialistas concordam que estes livros são claramente trabalhos combinados. Alguns sustentam que foram compostos de uma "Fonte Anterior", cuja época seria por volta do reino de Salomão (961-922 aC), e a "Fonte Posterior", com datas por volta do século 7 aC. Outros especialistas acreditam que existiam três fontes, conhecidas como "J", "L" e "E". Em  ambas teorias, é interessante reparar que a Fonte Anterior (ou J e L) favorece o estabelecimento da monarquia como vontade divina. Enquanto a Fonte Posterior (ou E), claramente desaprova o conceito da monarquia, dizendo que ela rejeita o papel de Deus como o rei verdadeiro! Este é um exemplo de uma das várias contradições da Bíblia (muito embora tantos fundamentalistas proclamem que a Bíblia seja "harmoniosa").
      Também ocorrem outras inconsistências. Por exemplo, em 1 Samuel 17, credita-se Davi pela morte do gigante Golias. Mas em 2 Samuel 21:19, El-Hanã, filho de Jaaré-Oregim, recebe o crédito por tal ato. Outro ponto a mencionar é que se buscarmos a popular versão King James da Bíblia (KJV - King James Version), e buscarmos em 2 Samuel 21:19, veremos o "irmão de" (Golias) em itálico. Esta impressão em itálico significa que foi alterada pelo editor da KJV, numa tentativa de maquiar esta inconsistência (fazendo parecer com que El-Hanã matou o irmão de Golias, ao invés de Golias em si). Mas se você procurar numa versão de boa reputação da Bíblia, tal como a New English Bible, você verá o original: que El-Hanã matou Golias. Toda impressão em itálico na KJV é uma modificação do editor do livro.
Reis (1 e 2): A autoria é atribuída tradicionalmente a Jeremias. Contudo, os pesquisadores modernos determinaram que sua composição é de pelo menos dois autores anônimos. O mais antigo autor escreveu sua parte algum tempo antes da morte de Josias, rei de Judá, em 610 aC. Acredita-se que a segunda parte tenha sido escrita 60 anos depois. Seu raciocínio segue esta linha por terem reparado que o último evento histórico mencionado ocorreu naquele tempo, e nenhuma menção foi feita à queda de Babilônia em 539 aC, um evento histórico significativo que certamente mereceria ter sido mencionado. Ambos autores, contudo, certamente pareciam ter sido motivados por um fervor nacionalista para defender a causa de Israel.
Crônicas (1 e 2), Esdras, Neemias: Quase todos os especialistas concordam que estes quatro livros foram escritos pelo(s) mesmo(s) autor(es). A evidencia interna sugere que ele (ou eles) pertencia(m) a uma tribo de sacerdotes, provavelmente Levitas. Nada se sabe sobre o autor, nem seu nome, nem seu caráter. Como a maioria dos livros da Bíblia, seu autor era anônimo. Em Crônicas 1 e 2, o autor referencia outros livros, mas os pesquisadores estão incertos sobre quais destas referencias serem legítimas e quais seriam apenas enfeites do texto por seu autor. A maioria dos especialistas concorda que estes livros contem várias adições posteriores, e que o trabalho inteiro foi feito entre 332 e 167 aC. Também é óbvio que o autor usou referencias específicas dos livros de Samuel e Reis (que os pesquisadores dizem ser menos precisos), modificados significativamente para coincidir com o ponto de vista do autor. O escritor tentava encontrar resposta para questões difíceis como "Por que às vezes as pessoas boas sofrem? E por que às vezes os injustos prosperam?" Numa tentativa de responder a tais questões, nota-se que o autor rejeitou a fonte que não o levava a uma solução.
      Além disso, embora os fundamentalistas considerem o todo da Bíblia como harmonioso, há várias inconsistências entre o livro de Crônicas e o livro de Reis.
Ester: este livro nem mesmo é mencionado nos escritos do Mar Morto. Porque o tom deste livro é odioso e vingativo, com tons nacionalistas, e de natureza completamente secular, os primeiros estudiosos Judeus relutaram em incluí-lo na Bíblia. Mas, devido à vontade do povo, eventualmente ele foi incluído, mas não até 90 dC! É interessante notar que a versão Grega deste livro contém 100 versos adicionais que não estavam na versão Hebraica original!
Jó: Os especialistas modernos dizem que não apenas este livro foi escrito anonimamente, como o autor usou, como suas fontes, lendas folclóricas Israelitas ou Edomitas.
Salmos: Esta é uma das poucas partes de toda a Bíblia que contém assinaturas. 74 dos salmos são atribuídos a Davi, e 32 a outros autores... mas todo o resto é de autoria desconhecida. Cristãos e Judeus sempre tem atribuído a autoria de todo o livro (ou pelo menos sua edição) a Davi, mas na realidade, este livro é uma coleção de salmos que levou quase 800 anos para ser compilada.
Provérbios: Os tradicionalistas atribuem este livro a Salomão, mas os estudiosos apontam  que ele foi provavelmente escrito 600 anos depois (por uma pessoa desconhecida) porque é claro que o(s) autor(es) foi(ram) fortemente influenciado(s) pelos sistemas de pensamento filosófico Grego, como o Epicurismo e Estoicismo.
Cantares de Salomão: Alguém pode pensar que este livro foi escrito por Salomão, mas os estudiosos acreditam que tenha sido composto de 400 a 600 anos mais tarde, e foi obviamente influenciado pelos rituais e cultos pagãos.
Isaías: Tradicionalmente atribuído a Isaías, mas os estudiosos sustentam que os primeiros 36 capítulos eram de seus ensinamentos, e o resto é o ensinamento de seus discípulos.
Jeremias: Um dos poucos livros do Antigo Testamento que contém referencias em primeira pessoa (embora apenas numa parte do livro). Outras partes estão na terceira pessoa, e provavelmente são de estudantes de Jeremias. O resto mostra claramente a influencia da escola Deuteronômica. Todo  o livro mostra evidencias de alterações na forma de edições de seu texto.
Lamentações: Os tradicionalistas dizem que seu autor foi Jeremias, mas os estudiosos especialistas dizem que foi composto por diferentes autores anônimos. O Capítulo 5 é  claramente uma edição posterior e editada do livro. Atualmente, a atribuição do livro de Jeremias é resultado de um engano em relação a 2 Crônicas 35:25, que diz que a lamentação de Jeremias pelo rei Josias "estão escritas nas lamentações". Mas o livro das Lamentações nunca menciona Josias.
Ezequiel: Este é um dos poucos livros cuja maior parte foi provavelmente escrita pelo autor com seu nome. Mas os especialistas crêem que os últimos nove capítulos foram uma edição posterior feita pelos discípulos de Ezequiel.
Daniel: Atribui-se tradicionalmente este livro a Daniel (que viveu no século 6 aC). Neste livro, ele relata o rapto que os Babilônios fizeram em Jerusalém. Mas uma vez que não existe  absolutamente registro histórico algum de um ataque Babilônio a Jerusalém até 400 anos depois, estima-se que a data real tenha sido no século 2 aC, descrito por um autor anônimo. Embora os tradicionalistas costumem categorizar este livro entre os chamados livros "proféticos", é importante observar que este livro nem mesmo é mencionado na relação dos livros Hebraicos famosos, a "Sabedoria de Sirach" (200 aC)! Também, embora os tradicionalistas atribuam este livro a um autor, uma parte significativa dele (2:4 até 7:28) foi escrita em outra linguagem, o Aramaico (o restante do livro foi escrito em Hebraico). Mas ainda, os historiadores notaram numerosas imprecisões históricas mencionadas neste livro (quando comparado com outros registros históricos daquele tempo, assim como a outros livros do Antigo Testamento).
Oséias: Novamente, atribuído tradicionalmente a Oséias. Mas os estudantes acreditam que algumas partes (1:10-11 e a parte final do segundo capítulo) sejam acréscimos posteriores. É interessante observar que estas duas seções adicionais sejam versos que descrevem o quanto as pessoas Judias são "especiais".
Joel: Não se conhece absolutamente nada sobre seu autor, exceto seu nome (Joel).
Amós: Tradicionalmente atribuído a Amós, mas os pesquisadores acreditam que tenha sido escrito depois de sua morte. Eles também apontam que o fim deste livro (9:8-15) difere tão dramaticamente do resto do livro que deve ter sido um acréscimo posterior, que lida com o povo de Israel, os favoritos de Jeová, sendo perdoados da ira divina.
Obadias: Os tradicionalistas dizem que este livro foi escrito por Obadias. Mas os pesquisadores bíblicos questionam a unidade do livro, e sustentam que mais de um autor o escreveu (um deles pode ter sido Obadias). Além disso, absolutamente nada se conhece sobre o profeta Hebraico. A respeito da unidade deste livro, é interessante observar que todo o livro tem apenas 21 versículos!
Jonas: A tradição sustenta que este livro foi escrito pelo profeta Jonas, o qual, de acordo com a mitologia Judaico/Cristã, viveu no século 8 aC e foi engolido por um peixe gigante. Mas os pesquisadores apontam as evidencias de que este livro teria sido escrito anonimamente 300 anos mais tarde, no período pós-exílio. Entre outras evidencias, eles apontam 1) a forma mais antiga do Hebraico usada pelo(s) autor(es), e 2) a familiaridade do(s) autor(es) com outras obras pós-exílio. Os tradicionalistas dizem que este e muitos outros livros da Bíblia são obras autobiográficas. Mas mesmo um relance sobre estes livros indica que eles foram escritos por outra pessoa (desconhecida). Usando este livro como exemplo, vamos examinar o capítulo 1, versículo 17: "Agora o Senhor preparou um grande peixe para engolir Jonas. E Jonas esteve no ventre do peixe por três dias e três noites". Qual a evidencia que os fundamentalistas produzem para sustentar que Jonas é seu autor? Absolutamente nenhuma. Não há nada no livro que chegue simplesmente a sugerir um versículo assinado por Jonas. E lembre-se, estou apenas usando este livro como um exemplo. Esta mesma objeção pode ser feita contra a maioria dos livros chamados "autobiográficos".
Miquéias: Novamente, os tradicionalistas dizem que o livro foi escrito por Miquéias. Mas, novamente, os especialistas dizem que este é um trabalho composto. Os capítulos 1-3 parecem ter sido escritos por ele, exceto pelos versículos 12 e 13 do segundo capítulo, que parecem ter sido acrescidos posteriormente. Os últimos dois versículos falam da restauração das tribos de Israel, provavelmente para sustentar o esforço Sionista. Os estudiosos sustentam que os capítulos 4 a 7 refletem as circunstancias que ocorreram durante a vida de Miquéias. Assim, Miquéias não poderia ser o autor destes capítulos.
Naum: Os tradicionalistas acreditam que este livro foi escrito por Naum. Os pesquisadores não encontraram nenhuma evidencia que discorde disso. Evidentemente, os tradicionalistas não tem evidencias de que ele realmente foi escrito por Naum... este é um tipo de falácia filosófica na qual se chega a "provar" a veracidade de uma conclusão baseando-se em que não se conseguiu provar sua falsidade.
Habacuque: Os pesquisadores crêem que os primeiros dois capítulos foram mesmo escritos por Habacuque, embora não se conheça absolutamente nada sobre sua pessoa. Mas o resto do livro é considerado como sendo uma adição posterior de um autor anônimo. Os pesquisadores mostram evidencias fortes, irrefutáveis: não há referencia a estas partes do livro no Comentário ao Habacuque nos escritos do Mar Morto.
Sofonias: A tradição o atribui ao profeta Sofonias, mas os pesquisadores dizem que os capítulos 2 e 3 foram acrescentados posteriormente. E o final do terceiro capítulo foi acrescentado ainda mais tarde. Novamente, este acréscimo fala dos Judeus reconquistando sua terra natal.
Ageu: Embora os tradicionalistas creiam que tenha sido escrito pelo profeta Ageu, os pesquisadores duvidam disso, apontando as referencias impessoais em terceira pessoa que o tratam como "o profeta".
Zacarias: A tradição sustenta que ele foi escrito pelas mãos de Zacarias. Isto pode ser a verdade, nos primeiros oito capítulos. Mas os especialistas apontam os últimos seis capítulos, que diferem significativamente dos oito primeiros, em linguagem, estilo, teologia, e outros assuntos. Esta diferença dramática leva os especialistas a acreditarem que esta parte foi composta mais de um século após a primeira parte do livro.
Malaquias: Os primeiros comentaristas Judeus acreditavam que este livro teria sido escrito por Esdras, mas os especialistas crêem que foi escrito mais tarde.

O NOVO TESTAMENTO
      Antes de se discutir a autoria do Novo Testamento, é importante lembrar que a maior parte do Novo Testamento foi escrita para o suposto cumprimento das profecias do Velho Testamento. Mas, como se mostrou claramente acima, a autoridade e autenticidade do Velho Testamento são altamente duvidosas. Você não pode construir uma casa sólida sobre alicerces fracos. Do mesmo modo, você não pode ter um argumento sólido baseando as premissas de seu argumento em presunções fracas. O "centro" filosófico do NT é composto pelos quatro primeiros livros (Mateus, Marcos, Lucas, e João), os quais são conhecidos como os "Evangelhos". O resto do NT é, para todos os propósitos práticos, uma elaboração sobre estes quatro livros. Muitos Cristãos acreditam que estes  quatro Evangelhos foram escritos por discípulos diretos de Cristo, mas como você verá, dificilmente isto teria ocorrido. Então mesmo os amados Evangelhos não estão livres de dúvidas inoportunas sobre sua autoria duvidosa. Os Cristãos citam a semelhança dos Evangelhos como sendo uma "prova" de sua autenticidade. Mas as semelhanças entre os quatro livros são devidas à existência de uma suposta coleção dos ensinos de Jesus chamada "Q". Não se sabe quem foi o compilador de Q. Os Cristãos colocam muita fé em que esta(s) pessoa(s) desconhecida(s) 1) não fabricou seus próprios ensinos para se adaptarem a seu próprio pensamento, e 2) não usa ensinos de fontes questionáveis. Além disso, como vimos anteriormente, existiam mais de 50 diferentes Evangelhos em circulação na época em que NT foi compilado. Uma vez que as pessoas que escolheram o cânone usaram apenas os livros que eram mais ou menos harmoniosos, é razoável concluir-se que o resultado seria... livros harmoniosos! Por exemplo, um livro que não entrou no NT foi o "Evangelho de Pedro I", porque o livro não considera a crucificação um ato de expiação. Da mesma forma, não se incluiu os "Atos de João" por causa de sua subversão dos ensinos Cristãos tradicionais (tais como negar a realidade do corpo físico de Cristo). Pode-se argumentar que estes (e muitos outros livros) não foram incluídos por causa de sua "autoridade questionável", mas a autoria destes livros não é menos questionável do que a dos outros livros que foram incluídos. Outro fato significativo e inquietante a respeito do Novo Testamento é a tradição literária largamente utilizada naquele tempo, de se acrescentar sob pseudônimo novos trabalhos a veneráveis personagens do passado, para se dar a eles uma credibilidade fictícia! Isto tem, realmente, implicações sérias para todo o Novo Testamento.
Mateus: Os tradicionalistas crêem que este é o mais antigo dos quatro Evangelhos, o qual teria sido escrito por São Mateus, um dos 12 apóstolos. Contudo, a maioria dos especialistas atuais acredita que o Evangelho de Marcos é mais antigo, e que o autor do Evangelho de Mateus baseou-se no Evangelho de Marcos. Isso é significativo, pois o Evangelho de Marcos tem sua autoria altamente questionável (ver abaixo). Eles baseiam sua crença em evidencias internas e externas. E estas evidencias lançam fortes dúvidas sobre a autoria deste livro por São Mateus. Eles reduziram a data provável da escrita do livro entre 70 e 80 dC.
Marcos: Os tradicionalistas acreditam que São Marcos escreveu o livro. E muitos Cristãos acreditam que São Marcos era um dos 12 apóstolos, mas não é assim. A mais antiga evidencia a respeito da autoridade deste Evangelho vem do século 3, de um historiador da igreja, Eusébio de César, o qual por sua vez cita um escritor que viveu cem anos antes, cujo nome era Papias... o qual por sua vez cita um escritor ainda anterior chamado apenas de "o ancião". Esta citação refere-se ao autor, Marcos, como sendo um intérprete de Pedro, cujo nome era João Marcos, um primo de Barnabás. Mas existem razões para se duvidar disso. Porque a maioria dos Cristãos antigos unia este Evangelho a Marcos, o "ancião" fez o melhor que pôde para ao menos tentar unir o autor com um homem chamado "Marcos" (o intérprete de Pedro). A conclusão da maioria dos especialistas é de que seu autor era um homem desconhecido (chamado Marcos), que usou um grande número de tradições para compor este livro. Também é interessante notar que muitos manuscritos Gregos terminam no oitavo versículo do capítulo 15. Mas a Bíblia atual termina no versículo 20! A maioria dos pesquisadores acredita que os últimos 12 versículos foram acrescentados por um monge ou escriba do século 2 para compor um final mais satisfatório.
Lucas: Atribuído a S. Lucas, embora se conheça muito pouco sobre S. Lucas, exceto que ele pode ter sido um companheiro das viagens de S. Paulo. E, como Paulo, não existe registro ou menção de S. Lucas ter encontrado Cristo. Assim, mesmo que este evangelho tenha sido escrito por São Lucas, ele teria sido na melhor das hipóteses um relato de segunda mão da biografia do salvador dos Cristãos, e foi escrito entre 40 a 50 anos após a morte de Cristo. Os especialistas modernos concordam que o Evangelho de Lucas foi claramente baseado num Evangelho anterior (Marcos), e que o autor usou duas grandes interpolações (Lucas 6:20-8:3, e 9:51-18:14) de uma suposta coletânea dos ensinos de Jesus, "Q", e de uma grande tradição de ensinos orais (comumente referenciada como "L").
João: A autoridade deste livro tem criado grandes controvérsias desde 1800. Embora os tradicionalistas sempre tenham acreditado que o autor deste livro tenha sido São João Evangelista, atualmente há quatro candidatos à sua autoria: 1) ele foi escrito por uma pessoa conhecida como "o ancião", como mencionado nas Epístolas de João; 2) ele foi escrito por um estudante de São João Evangelista; 3) ele foi escrito por Lázaro de Betânia; ou 4) ele foi escrito por um anônimo da Alexandria cem anos após a morte de Jesus. Os especialistas também concordam que todo o capítulo 21 é um acréscimo posterior. Este capítulo trata da suposta ressurreição de Cristo.
Atos dos Apóstolos: Tradicionalmente  acredita-se que seu autor foi São Lucas mas, uma vez que não há referencias a isto no livro em si, há varias dúvidas sobre isso. Muitos pesquisadores entendem que ele foi escrito por alguém que adquiriu um diário de um companheiro das viagens de S. Paulo. Os pesquisadores apontam que ele foi escrito por volta de 62-90 dC, e foi escrito em Grego, ao invés de Hebraico
Romanos; Coríntios (1 e 2); Gálatas: Atribuídos a Paulo
Efésios: Tradicionalmente atribuído a Paulo, mas vários pesquisadores modernos duvidam disso por causa das diferenças extremas de tom, vocabulário, e estilo de escrito comparados às cartas autenticas de Paulo
Filipenses: Atribuído a Paulo
Colossenses: Embora tradicionalmente atribuído a Paulo, muitos pesquisadores tem fortes  dúvidas sobre isso, por conta das diferenças do vocabulário usado (quando comparado com os escritos genuínos de Paulo).
1 Tessalonicenses: Atribuído a Paulo
2 Tessalonicenses: Atribuído a Paulo, embora, baseando-se em evidencias internas e externas, muitos pesquisadores tendem a duvidar desta autoria.
Timóteo (1 e 2); Tito: Tradicionalmente atribuídos a Paulo, porém muitos pesquisadores não acreditam nisso, pelo fato do estilo e vocabulário diferirem de modos significativos dos trabalhos autênticos de Paulo. E mais, os eventos históricos narrados nestes trabalhos não se encaixam nas situações conhecidas sobre a vida de Paulo. Os especialistas acreditam que estes livros são de autor(es) desconhecido(s) que usou/usaram o nome de Paulo para lhe dar um ar de autoridade. Isso é importante porque no livro de Timóteo, Paulo condena aqueles que dizem para se abster de comer carne: "Nos últimos tempos alguns se afastaram da fé, dando lugar as ... doutrinas dos demônios; falando mentiras ... e mandando se abster de carne..." (1 Timóteo 4:1-3) Os Cristãos costumam citar este versículo para mostrar que o vegetarianismo é uma doutrina do Diabo. Mas este é um livro de autoria extremamente duvidosa. Mas, até mesmo para podermos argumentar, vamos assumir que Paulo tenha realmente escrito este livro. Qual a justificativa para Paulo ter falado isso? Não há lugar algum no Antigo Testamento nem nos ensinos de Jesus que tenham igualado o vegetarianismo com as "doutrinas dos diabos". É muito mais seguro supor-se que quem escreveu Timóteo não tenha gostado da idéia de renunciar a seu hábito de comer a preciosa carne animal.
Filemom: Tradicionalmente atribuído a Paulo.
Hebreus: Praticamente todos os especialistas atuais duvidam que tenha sido escrito por Paulo (como os tradicionalistas proclamam). Na verdade, até mesmo a primitiva Igreja Cristã tinha fortes dúvidas sobre Paulo ter sido o autor deste livro! Os pesquisadores apontam que o vocabulário, a gramática e o estilo diferem dramaticamente dos trabalhos conhecidos de Paulo. Mas a evidencia mais condenatória é de que o(s) autor(es) deste livro cita(m) as versões Gregas do Antigo Testamento (ao invés dos originais em Hebraico, como Paulo teria feito)! Assim, torna-se claro que este livro não foi escrito nem por Paulo nem por nenhum outro apóstolo. Isso tem implicações profundas, por este livro contém os fundamentos das crenças dos fundamentalistas: 1) que Jesus morreu pelos pecados de outros (capítulos 9 e 10); e 2) que uma doutrina apenas de fé é suficiente para a salvação (capítulos 11 e 12).
Tiago: Este livro é tradicionalmente atribuído ao apóstolo São Tiago. A maioria dos especialistas duvida disso, por conta do conhecimento da linguagem Grega por seu autor. Por isso, eles acreditam que ele foi escrito por um Cristão Grego desconhecido. E muitos Cristãos tem - eles mesmos - dúvidas sobre este trabalho. Até mesmo Martinho Lutero, o fundador de um dos três principais ramos do Cristianismo (Protestantismo), chamou-o de "uma epístola de palha". Uma das razões prováveis pela qual ele disse isso seria o versículo em Tiago (2:20): "Mas queres saber, ó homem vão, que a fé sem as obras é morta?" Os Protestantes acreditam que a fé apenas já é suficiente para a salvação. Os Católicos acreditam que também é importante fazer bons trabalhos. Este foi um ponto crucial para causar a separação entre Protestantismo e Catolicismo. E este versículo devasta os argumentos dos fundamentalistas. Ele é completamente contraditório em relação às exortações de Paulo da "justificação pela fé" em Romanos e Hebreus. Basta da "harmonia da Bíblia", como os fundamentalistas proclamam (como prova da validade da Bíblia).
Pedro 1: Embora atribuído a Pedro, isto é colocado em dúvida pela maioria dos especialistas que se baseiam no fato do autor deste livro citar traduções Gregas do Antigo Testamento ao invés dos originais em Hebraico. Este livro questionável contém o refrão dos fundamentalistas "nascido de novo" (1 Pedro 1:23).
Pedro 2: Este livro tem autoria ainda mais duvidosa que Pedro 1, tanto que teve sua entrada postergada no cânone do Novo Testamento. A crença mais comum é de que tenha sido escrito por um escriba anônimo por volta de 150 dC.
Epístolas de João: tradicionalmente atribuído a São João Evangelista, mas a maioria dos pesquisadores discorda. Muitos especialistas desconfiam que teria escrito por um dos quatro "Joões" como descrito no "Evangelho de João", mas eles não concordam sobre qual deles.
Apocalipse (Revelação): Novamente atribuído a São João Evangelista, mas os especialistas discordam novamente. Há tantas diferenças lingüísticas entre este livro e o Evangelho de João que torna-se claro que eles foram escritos por pessoas diferentes. Este livro é o alicerce dos fundamentalistas, dos evangélicos, e dos milenaristas. Ele relata uma suposta "visão", e vemos os Cristãos unindo esta alegoria enigmática aos eventos atuais que mostram que o fim do mundo está próximo. E geralmente eles têm sucesso, uma vez que este livro é tão obscuro que alguém pode obter praticamente qualquer interpretação dele. De fato, desde que ele foi escrito (por volta de 100 dC), pessoas de todas as gerações tem sido capazes de relacioná-lo com eventos de seu próprio tempo.  As referencias abundantes a "mil anos" no capítulo 20 levaram muitos a considerarem o dia da condenação como o final do milênio. A histeria do "Juízo Final" que aconteceu ao se aproximar o ano 1000 é um fato histórico. De modo similar, os psicólogos sociais previram que com a aproximação do ano 2000, a mesma histeria viria a ocorrer.
      Vários especialistas agora acreditam que o Apocalipse é uma coleção de trabalhos separados, de vários autores desconhecidos. Uma razão para eles afirmarem isto é porque o livro é uma estranha coleção nos idiomas Grego e Hebraico. E alguns acreditam que ele nunca foi composto para ser visto como uma "profecia", mas sim como uma alegoria mostrando a crise da fé num período de tempo (das perseguições Romanas). É interessante observar que Jesus mesmo nunca escreveu livro algum do Novo Testamento, nem sequer um parágrafo. De fato, a maior parte do Novo Testamento foi escrita por Paulo. Isto tem levado muitos a considerar que Paulo foi o arquiteto do Cristianismo moderno, e não Cristo. Um nome mais adequado para os "Cristãos", então, seria "Paulinos".
      Muitos Cristãos acreditam que Paulo foi um dos 12 apóstolos de Cristo, mas não foi... os 12 eram Simão, André, Tiago, João, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago, Tadeu, Simão e Judas Escariotes. Depois de Judas ter se matado, Matias o substituiu. A propósito,esta é uma das maneiras de testar o conhecimento dos fundamentalistas sobre sua própria religião. Muitos crêem que S. Marcos (o suposto autor do Evangelho de Marcos), e São Lucas (o suposto autor do Evangelho de Lucas), e São Paulo (o autor de vários livros do Novo Testamento), tenham feito parte dos 12 apóstolos, os discípulos diretos de Jesus. Mas eles não estão na lista. Quanto a Paulo, que tem um papel tão importante na teologia Cristã, é importante observarmos que ele nunca encontrou Cristo. De fato, ele foi um membro ativo nas perseguições aos primeiros Cristãos, dizendo que praticavam um culto Judeu fora da lei. Atos 8:1 mostra Paulo concordando com o apedrejamento do primeiro mártir Cristão, S. Estevão: "E Saulo (nome pré-Cristão de Paulo) consentiu em sua morte" (de Estevão). Paulo foi convertido ao Cristianismo posteriormente, e tornou-se um missionário zeloso (talvez motivado pela culpa extrema de suas atrocidades).

      CONCLUSÕES 
Como diz o provérbio Hindu, "Filosofia sem religião é especulação mental. E religião sem filosofia é sentimentalismo". Uma religião guiada apenas por refrões e arroubos de fervor emotivo não está em posição de declarar a si mesma como sendo a única religião válida da humanidade (enquanto condena outras religiões como sendo "truques de Satã").
      O Buda disse, "não aceite uma verdade porque foram feitos alguns velhos manuscritos, não acredite porque é a crença de sua nação, não acredite porque você foi levado a crer desde a sua infância, mas raciocine sobre a verdade, e depois de analisá-la, se você descobrir que ela fará bem para um e para todos, acredite, e viva-a e ajude os outros a viverem de acordo com ela".
      Este é o verdadeiro dharma. As literaturas Védica (e Budista) são tesouros veneráveis de pensamento lógico e princípios firmes, guiando as entidades viventes ao pináculo máximo da perfeição espiritual. Nesta negra Era de Kali, quando a irreligião é considerada religião (e religião é considerada irreligião), certamente este Dharma é necessário. Ele é a última luz do mundo.

LEITURA ADICIONAL SUGERIDA
Diet for a New America, by John Robbins, published by EarthSave Foundation, 706 Frederick Street, San Francisco, California. "Dieta para uma Nova América"
      Este livro foi indicado para um Premio Pulitzer. Ele lista evidencias de fontes sérias como o Depto. de Agricultura dos EUA, o Depto. de Comércio dos EUA, o Jornal da Associação Médica Americana, o Jornal de Medicina New England, e muitos outros, e dá um testemunho inegável e persuasivo de que a alimentação com carne é prejudicial a nossos corpos assim como ao bem-estar de nosso planeta.
Deceptions and Myths of the Bible, by Lloyd M. Graham, published by University books, Secaucus, NJ. "Decepções e Mitos da Bíblia"
      Este livro traz evidencias fortes de que a maioria dos mitos da Bíblia originou-se de fontes mais antigas. Por exemplo: os mitos do Éden, Adão e Eva vieram de histórias antigas da Babilônia; Moisés foi calcado sobre o Mises Sírio; e o mito de Noé e do dilúvio vieram da história Purânica do avatar Matsya. 

O QUE VOCÊ PODE FAZER
1) Sustente seu templo. É normal que uma pessoa reflita e queira fazer uma diferença positiva, para deixar este mundo como sendo um lugar melhor do que aquele em que ela chegou. Existem centenas de caridades valiosas que você pode considerar: auxiliar os pobres; auxiliar os doentes; bibliotecas; organizações educativas, ambientais e de direitos de animais. Mas lembre-se que tal caridade tem uma base grande de suporte de toda a população. Templos Hindus, pequenas ilhas de refúgio do dharma, são sustentados apenas por uma pequena minoria da população, e eles precisam de sua ajuda! Se você dá água às raízes de uma árvore, toda a árvore (tronco, galhos, e folhas) é beneficiada. Da mesma forma, nutrindo o dharma (as verdadeiras raízes do mundo), todos os outros projetos que valem à pena são automaticamente auxiliados.
2) Mantenha-se atualizado. Isso é absolutamente vital para se manter à frente dos acontecimentos em sua vizinhança, sua comunidade, e de toda a aldeia global.
3) Faça sua voz ser ouvida. Se há algum problema num conselho municipal, legislação estadual, ou Congresso, escreva ou chame seu representante. Você tem o direito a sua opinião, e seu representante deve saber disso. E deixe-o saber que você está cuidando de seu voto. Na política, a "engrenagem que range é a que consegue ser lubrificada". Considere também escrever cartas aos jornais; uma carta bem escrita pode inspirar outros a se envolverem. Uma boa maneira de ter sua carta impressa é rebater a opinião expressa em algum editorial, ou a visão de uma carta anterior.
4) Faça valer o seu voto. O conservadorismo político e o sentimento anti-estrangeiro está crescendo. Certifique-se de votar na pessoa certa (ou, pelo menos, vote contra a pessoa errada). Caso seu candidato vença a eleição, escreva-lhe imediatamente uma carta de  congratulações, e diga-lhe porque você votou nele.
5) Fale com seu bolso. Evite os comerciantes e os negócios que são inamistosos com a causa do dharma. E descubra uma maneira de patrocinar os negócios que sustentam nossa causa.
6) Passe seus valores para as próximas gerações... não pense que eles serão passados automaticamente. A próxima geração está enfrentando pressões enormes de seus amigos, da sociedade, e dos fundamentalistas Cristãos. Eles precisam de toda ajuda que pudermos lhes dar.
7) Viva o dharma. Em cada instante, estamos face a face com apenas duas escolhas para agir. Ou uma ação ajudará a sustentar o dharma, ou a outra ação deixará o mundo se afundar mais ainda na escuridão. A cada momento, nos é dada a oportunidade de acrescentarmos nossa própria luz ao total da luz. A escolha é sua.

URL do texto original: http://www.stephen-knapp.com/dharma_self_defense