Deus existe?
Outro dia eu estava lendo uma reportagem na "Gramophone", uma revista sobre música clássica. Lá dizia o seguinte:
"O assunto da minha reportagem deste mês é a gravação que Rubinstein fez do concerto de piano em Si Maior, KV 595, de Mozart. Eu sinto que Rubinstein está em sua melhor forma. Seu toque é leve e lírico, o equilíbrio com a orquestra é sublime, ele expressa a profundidade deste concerto de Mozart como apenas um pianista muito amadurecido pode fazer... Rubenstein tocou-o em 1961 num Grand Concert (Steinway) de 275 cm, e a gravação foi feita no Royal Albert Hall em Londres."
O número seguinte da "Gramophone" tinha várias cartas dos leitores.
Uma começava assim: "Certamente não vale a pena ouvir esta gravação. Eu ouvi que 1961 foi um ano em que Rubinstein esteve pouco criativo..."
Outro leitor escreveu: "Eu não vou comprar a gravação porque ela não pode ser boa. Você disse que Rubenstei tocou num Grand Concert de 275 cm e este instrumento é grande demais para os concerto íntimos que Mozart escreveu..."
Uma terceira carta dizia: "... Não concordo com sua opinião sobre a gravação de Rubinstein. Eu ainda não a ouvi, mas como um legítimo Frances eu sei que a acústica do Royal Albert Hall é horrorosa comparada à que se tem em Paris..."
Ainda uma outra carta dizia: "Obrigado por sua reportagem. Eu não acho necessário escutar a gravação, porque escutar sua descrição já é música para meus ouvidos..."
O verdadeiro repórter
Uma história absurda?
Sim. Com certeza. Mas nós fazemos o mesmo quando discutimos sobre Deus. Por milênios os ateístas e os crentes tem discutido sobre a questão "Deus existe"?
Quem não é religioso "sabe" que Deus não existe, e tem diversos argumentos para provar isso.
Pessoas religiosas, por sua vez, respondem que eles sentem profundamente que Deus existe. Elas também, frequentemente, tem argumentos para seus pontos de vista.
As pessoas religiosas "sabem" que Deus deseja que nós rezemos de certa maneira e nos alimentemos de certo modo, embora nenhuma delas tenha ouvido Deus falando diretamente algo sobre isto. Eles apenas ouvem pregadores, rabis, imans e outras pessoas que também não percebem Deus. Você já encontrou alguém que experimentou Deus?
A única opinião confiável sobre a gravação de Mozart veio da pessoa que a escutou.
A única pessoa que pode falar sobre Deus é a que verdadeiramente o experimentou.
Todas as pessoas que discutem sobre os prós e os contras da existência de Deus, ou as palavras de Deus e as instruções de Deus para os fiéis, são pessoas que nunca o experimentaram. No melhor dos casos algumas pessoas sentiram algo profundo e indescritível, mas, normalmente, também muito vago - nenhuma experiência inegável do Deus infinito e onipotente que as escrituras religiosas descrevem. Mais ainda, eles não podem dar sua experiência para os outros.
Então como estas pessoas podem convencer outras?
A prova do pudim
Você possivelmente não descobrirá nada de essencial sobre as gravações das obras de Mozart tocado por Rubenstein, se voce não as tiver escutado. Do mesmo modo, você possivelmente não poderá descobrir nada sobre Deus apenas usando argumentos inteligentes. Eles são teóricos. A prova do pudim está em saboreá-lo. A prova da existência de Deus está em experimentá-lo.
Será que alguém fez isso?
Sim. A maioria das pessoas que argumentam tão ferozmente sobre Deus não sabe disso, mas sim, há pessoas que experimentaram a Deus.
Experimentando o todo
Através da história, no mundo inteiro, as pessoas desenvolveram técnicas que tornaram suas mentes mais amplas e mais sensíveis. Normalmente nossas mentes são muito inquietas, e nós não percebemos as coisas sutis que poderíamos experimentar com a mente calma. Agora esses pesquisadores, essas pessoas que conseguiram o controle de sua mente e a transformaram num receptor muito sensível, elas experimentaram que existia algo no universo que elas não tinham sentido antes. Algo que era bem maior que todos nós. Algo que era o total de todos nós. Elas sentiram que este "algo" na verdade era uma palavra errada. O que elas perceberam era vivo. Era consciente e irradiando um calor que fez os pesquisadores se sentirem incrivelmente felizes.
A maioria destes pesquisadores não conhecia um ao outro, e eles usaram palavras diferentes para descrever sua experiência. Alguns chamaram esta entidade universal de Mente Cósmica, outros a chamam de Energia Universal. Alguns a chamaram de Deus, Alá, Jeová, Consciência de Cristo, Consciência Cósmica, Pai Supremo, ou Nirvana. Todos eles estavam falando da mesma experiência (*).
Eles experimentaram a Unidade de tudo que existe, a conexão de tudo. Eles sentiram que o universo era um todo - uma Consciência. E eles sentiram um poderoso sentimento de amor. Eles disseram que Deus era amor.
Expandindo a mente
Isso foi o que as pessoas profundamente religiosas também disseram. Contudo, frequentemente elas não podem sentir Deus na totalidade, porque Deus é maior que nossa mente normal. Elas não tem as ferramentas que os místicos, os pesquisadores da mente, desenvolveram para expandir a mente. Elas sentiram apenas uma sombra do Deus verdadeiro e assim tem tido muitos problemas para convencer aos outros. Elas nem tem uma ferramenta sistemática, científica para ensinar os outros a repetirem sua própria experiencia.
Um sonho?
Mas esta experiência de Deus, que tantas pessoas tiveram através da história, poderia ser um sonho, uma alucinação. Talvez a mente faça brincadeiras estranhas conosco, mesmo que nós pensemos que saibamos operá-la. Mas todos que tiveram esta "alucinação" mudaram profundamente. Pessoas tímidas tornaram-se extrovertidas e confiantes, gente fechada em si mesmo tornou-se aberta, gente egoísta tornou-se amorosa, gente desamparada tornou-se cheia de alegria e sentiu um novo propósito em suas vidas. Pessoas que estiveram procurando a felicidade por anos e anos sem encontrar nada que lhes desse alegria e paz, conseguiram-nas simplesmente pela "alucinação" sobre Deus. Se isto for uma auto-ilusão, é uma que vale a pena ter.
Descobrindo sua própria verdade
Será que nós, pessoas não-iluminadas, acreditamos em Deus porque alguém mais o experimentou?
Não. Nós não precisamos acreditar. Nós podemos descobrir por nós mesmos. Nós podemos conhecer. Esses místicos, estes yogues que experimentaram Deus, podem nos ensinar como nós, também, podemos fazer isso. Todas estas pessoas que argumentam infindavelmente a favor ou contra a existência de Deus, podem aprender simplesmente a experimentar Deus. E isto terminará completamente com a discussão.
Mudando nossas vidas
Aqueles que experimentaram a Deus e permaneceram experimentando este sentimento de amor e segurança e esperança, tornaram-se pessoas radiantes, cheias de paz interior. Eles sentiram que a base do universo era uma Força amorosa. Eles sentiram que tudo e todos os eventos estão conectados. Como resultado disso, eles sentiram que tudo que acontece, tem um propósito positivo. Eles não têm mais nada a temer na vida. Sua vida exterior frequentemente não era fácil, mas eles experimentaram algo que as manteve interiormente calmas e positivas. Realmente nada podia abalá-los.
Nós podemos ser assim. O conhecimento, as técnicas estão disponíveis. Elas tem sido testadas e desenvolvidas durante milhares de anos. Seu nome é meditação. As técnicas de meditação são ferramentas que acalmam e expandem a mente, até que nós possamos compreender a entidade que desejamos experimentar.
Quando abrimos nossos ouvidos, nós podemos fazer o salto da discussão sobre Mozart para o escutar Mozart. Quando aprendemos a abrir nossa mente, podemos fazer o salto da discussão sobre Deus para a experiência de Deus. E então todas as discussões tornam-se desnecessárias
* Há uma diferença entre experimentar Deus ao nível de Saguna (com propriedades) e ao nível de Nirguna (com propriedades). Nirvana e a Consciencia cósmica pertencem ao último.
Traduzido e colocado neste site por E., com permissão do autor.